Criticando as candidatas por não representarem as mudanças necessárias para a cidade e defendendo a coerência do PSDB
Na política, o mais comum é que derrotados façam acenos ao vencedor ou, pelo menos, aoponentes do segundo turno. Mas Beto Pereira, deputado federal e ex-candidato à prefeitura de Campo Grande, decidiu seguir um caminho diferente. Ele não apoiará nenhuma das duas candidatas que avançaram para a fase final da disputa, e isso é tanto uma surpresa quanto um sinal de como Beto, assim como o PSDB que o abriga, está pensando no futuro de sua cidade.
Em uma coletiva para a imprensa, Beto, vestindo o semblante mais sério de quem já recebeu a notícia com tranquilidade, foi direto: “Não acreditamos que representem as mudanças para Campo Grande.” É uma frase forte, um tipo de sinceridade nem sempre vista na política. O “não acreditamos” vem carregado de uma rejeição às propostas que estão sobre a mesa. E não foi só ele que disse isso, é o partido inteiro – uma decisão respaldada pelo diretório estadual e municipal do PSDB.
Coerência antes de tudo
É aí que o deputado escolhe uma bandeira rara: a da coerência. E, em tempos de polarização e pragmatismo eleitoral, isso pode até parecer um luxo. Beto não vai apoiar quem ele não acredita. Ele tem um plano e, se o que está em jogo não representa esse plano, ele prefere se distanciar. Segundo ele, os projetos das candidatas são populistas, cheios de promessas vazias, e não chegam perto das reformas estruturais que ele considera vitais para Campo Grande.
Mas a neutralidade não é omissão. Longe disso. Ele foi enfático ao deixar claro que, no Congresso, vai continuar trabalhando por Campo Grande, enviando emendas, principalmente para a saúde, independentemente de quem vença. É um gesto que tenta deixar de lado a lógica do “se eu perco, todos perdem”, e reafirma que o compromisso de Beto é com a cidade, e não com a disputa política.
Neutralidade com uma torcida discreta
Não se pode dizer que Beto Pereira abandonou o barco. Ele anunciou que estará de “torcida pela cidade”, mas sem gritar o nome de nenhuma das finalistas do segundo turno. A metáfora da torcida, aliás, resume bem a postura de quem assiste ao jogo de longe, com certa expectativa de que, no final das contas, Campo Grande consiga fazer a escolha certa.
O discurso é, acima de tudo, de respeito democrático. Beto não descredibiliza o processo, nem insinua que as opções são péssimas. Apenas não enxerga nas propostas atuais algo que realmente mudará o curso da cidade – ao menos, não com a profundidade que ele deseja. Ele não sugere boicote, não acena para anulações. Apenas diz: “Respeitamos de forma democrática o resultado das eleições.”
Reformas, não promessas
Quando Beto fala de reformas, ele não está evocando o discurso fácil do “vamos melhorar tudo”. Em vez disso, ele quer dizer que acredita que Campo Grande precisa de soluções mais sérias, menos promessas eleitoreiras e mais ação concreta. É uma visão quase tecnocrática, na falta de uma palavra melhor, que se preocupa com a administração pública eficiente, com a prestação de serviços de qualidade e, principalmente, com a responsabilidade fiscal.
Na política local, Beto se posiciona como um fiscalizador nato, alguém que está pronto para usar sua cadeira em Brasília para fazer cobranças e, ao mesmo tempo, garantir que os recursos para Campo Grande continuem chegando. Ele diz isso com a segurança de quem já encaminhou diversas emendas, especialmente na área da saúde, e promete continuar nesse caminho, independentemente de quem esteja no comando da prefeitura. Sua meta, ao que parece, não é apenas vencer uma eleição, mas deixar um legado de ação concreta.
O PSDB e o caminho independente
A neutralidade declarada também é uma forma de reafirmar a independência do PSDB em Campo Grande. O partido, que há anos navega entre o protagonismo local e o enfrentamento de adversidades nacionais, conseguiu uma expressiva votação no primeiro turno – mais de 115 mil eleitores (25,96%) apostaram em Beto Pereira. Para o deputado, esses votos são a prova de que parte significativa da população quer algo diferente, uma nova forma de governar.
O partido decidiu não apoiar nenhum dos projetos restantes, e ao liberar seus filiados para votarem como quiserem, mostra uma confiança de que esse eleitorado não é “propriedade” de ninguém. É uma espécie de aviso: o PSDB continua vivo e vai sobreviver além dessa disputa.
O combate às fake news e a importância da democracia
Outro ponto que Beto fez questão de trazer à tona na coletiva foi a questão das fake news. Ele, como tantos outros candidatos ao redor do Brasil, foi vítima de campanhas difamatórias, que chegaram a ser investigadas pela Polícia Federal. Não é a primeira vez que esse tipo de denúncia aparece nas eleições, mas o impacto disso sobre a democracia não pode ser subestimado. Para Beto, a proliferação de notícias falsas prejudicou não apenas sua campanha, mas o processo eleitoral como um todo. “Fábricas de fake news”, ele disse, “prejudicam o processo democrático.”
A fala de Beto sobre fake news também é um alerta para o que vem adiante. Mesmo que tenha ficado fora do segundo turno, ele continua atento ao jogo. E se alguém duvida que Beto Pereira continuará relevante, talvez seja bom pensar novamente.
Uma eleição, muitos futuros
Com a decisão de não apoiar ninguém, Beto Pereira tenta construir um espaço de independência para si e para o PSDB. Seu gesto vai além de uma simples recusa. É uma forma de demonstrar que ele não precisa se associar a qualquer candidatura apenas por conveniência, e que seu compromisso maior é com as ideias e os princípios que defende.
Se, no final, essa neutralidade se mostrará positiva ou não para sua carreira política, ainda é uma incógnita. Mas o certo é que, nas entrelinhas de seu discurso, Beto Pereira traçou um caminho para continuar sendo uma peça importante no cenário político de Campo Grande – e talvez até além. Afinal, em um momento de escolhas polarizadas, dizer “não” também é uma escolha.