Desemprego, fome e sem casa: A triste realidade das famílias que vivem nas 61 favelas em Campo Grande
De acordo com a CUFA (Central Única de Favelas), 46 mil famílias vivem em 61 favelas e aldeias urbanas em Campo Grande. De acordo com a coordenadora da entidade, Letícia Polidorio, algumas existem há mais de 20 ou 30 anos. Contudo, ela não soube informar qual é a mais antiga. A entidade estima que 46 mil famílias vivem em favelas na Capital – o equivalente a população ficaria entre os cinco maiores municípios do Estado.
O levantamento da CUFA contrasta com a propaganda feita por anos pelo ex-prefeito Nelsinho Trad (PSD), de que acabou com as favelas em Campo Grande. No entanto, apesar de ser repetida à exaustão, o mote “uma capital sem favelas” acabou se chocando com a realidade.
Ex-secretário estadual de Habitação e presidente da EMHA nos mandatos de André Puccinelli (MDB), Carlos Marun relembra que o emedebista assumiu a prefeitura em 1997 com 172 favelas. Algumas, como a favela Nova Esperança, começavam no Centro, às margens do Rio Anhanduí, no cruzamento com a Avenida Salgado Filho, e se estendia até o Conjunto Aero Rancho.
Puccinelli implementou uma política repressiva para evitar novas invasões e de construção de moradias para tirar as famílias das favelas. Ao final de oito anos, segundo Nelsinho, restavam 19 favelas. O ex-prefeito garante, por meio da assessoria, que acabou com a favelas em 2012.
Apesar da Capital não ter morros, as favelas não só voltaram, como se espalharam por várias regiões da Capital. A maior de todas fica na ocupação da Homex, que começou a ser regularizada em 2021, ainda na gestão de Marquinhos Trad (PSD).
No local, vivem 1,4 mil famílias. De acordo com Letícia, da CUFA, cerca de 300 a 400 famílias já conseguiram regularizar os imóveis. Graças a ofensiva da Defensoria Pública, do Ministério Público Estadual e da Justiça estadual, a prefeitura conseguiu levar água e energia para todas as famílias.
A dona de casa Cledimar Lúcia Aparecida de Oliveira, 46, reside na Homex há três anos. Ela conta que quando chegou ao local, era uma grande favela, com gambiarras e sem qualquer infraestrutura. Hoje, tem a documentação do lote, energia elétrica, água e esgoto, infraestrutura de fazer inveja a bairros muito mais antigos na Capital.
Os moradores contam com escola, unidade de saúde e linha de ônibus. A única queixa é a grande quantidade de poças d’água deixadas pelas chuvas, que deixam as vias intransitáveis. “Aqui já foi favela”, declara a dona de casa, orgulhosa do novo bairro.
A maioria das casas na Homex são de alvenaria. Poucos são de lona ou de amontoados de madeira.
Para Letícia Polidorio, é preciso uma política habitacional que dê dignidade para as famílias que residem em habitações precárias e em situação de vulnerabilidade social. Ela defende que o próximo gestor municipal, prefeita ou prefeito, se compromete em garantir moradia, atendimento médico e pavimentação para as 61 favelas existentes em Campo Grande.
Para o ex-presidente da Emha, Eneas José de Carvalho, estima que o déficit habitacional de Campo Grande seja de aproximadamente 30 mil residências.
A prefeita Adriane não soube informar, por meio da assessoria, sobre o déficit, o número de favelas nem o número de famílias inscritas no cadastro da Emha a espera de uma casa. A informação é de que está, dois anos e meio após assumir o cargo, revendo os dados.
Apesar de não citar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a prefeita disse que espera obter 696 casas por meio do programa Minha Casa Minha Vida. “Durante a atual gestão, mais de 8 mil processos de regularização foram concluídos ou estão em fase de finalização, como é o caso da Comunidade Homex, a maior ocupação já registrada na Capital, e da Comunidade Mandela”, informou.
“As demais ocupações seguem prazos diferenciados para conclusão de regularização e reassentamentos, mas todas estão incluídas no plano de ação da agência, que busca diariamente viabilizar soluções para atender todas as famílias cadastradas”, informou. No entanto, não sabe ou faz mistério sobre o número de favelas contempladas pelo projeto.
O programa Locação Social contempla 300 famílias. Mais uma vez, a prefeitura se negou a informar quantos estão na fila ou cadastrados para serem beneficiados. A Vila dos Idosos, em obra há dois anos, ainda não ficou pronta e foi incluída na conta. Serão 40 unidades para serem incluídas no projeto de aluguel social.
Enquanto poder público não tem noção do problema, 46 mil famílias, segundo a CUFA, vivem o drama de enfrentar toda sorte de infortúnio em moradias precárias.
Conteúdo retirado do O Jacaré.