Nesta segunda-feira, a Câmara Municipal de Campo Grande promoveu uma audiência pública para discutir o comportamento suicida e autolesão entre jovens. A iniciativa partiu da vereadora Luiza Ribeiro (PT), presidente da Comissão Permanente de Políticas e Direitos das Mulheres, de Cidadania e Direitos Humanos, em parceria com o Deputado Federal Geraldo Resende (PSDB-MS), membro titular da Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental da Câmara dos Deputados.
“Essa audiência vem muito para acolher as demandas que a sociedade leva ao nosso gabinete. O que nos motiva é que o suicídio representa um desafio significativo para a saúde pública, não só em escala local, mas global. Nosso objetivo é iniciar um debate sobre essa questão com foco nos jovens”, afirmou a vereadora Luiza Ribeiro.
A audiência também contou com a participação on-line da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), que destacou a necessidade de discutir o tema continuamente, e não apenas durante o Setembro Amarelo.
Foi constatado na audiência que a rede de atenção psicossocial de Campo Grande não atende à demanda existente. No SISREG, aproximadamente quatro mil pessoas aguardam uma consulta com psicólogo, enquanto as equipes multidisciplinares são insuficientes. A falta de psicólogos contribui para a deterioração da saúde mental, podendo levar a situações de autolesão e suicídio.
“Mato Grosso do Sul apresenta alguns desafios. Quando organizarmos uma rede de atenção psicossocial em todo o Estado, vamos melhorar a rede da Capital. O combate ao suicídio deve envolver várias secretarias. Estamos abertos a todas as sugestões”, disse o deputado federal Geraldo Resende.
Dados do SUS indicam que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos, sugerindo que os números reais possam ser ainda maiores.
“Diante desse panorama e da interconexão das políticas públicas relacionadas ao tema, o objetivo desta audiência pública é avaliar como Campo Grande está lidando com o aumento das demandas juvenis e as abordagens adotadas para enfrentar esse desafio”, acrescentou a vereadora Luiza Ribeiro.
Lucimara Faria, gerente técnica do Serviço de Prevenção de Violências da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), relatou que a pasta monitora os jovens que tentam suicídio. “Precisamos melhorar nosso atendimento. Hoje, fazemos o monitoramento de todas essas pessoas. Em 2023, foram notificadas 353 tentativas de suicídio entre jovens de 15 a 19 anos e 538 notificações entre pessoas de 20 a 29 anos”, afirmou.
O presidente do Conselho Regional de Psicologia, Walkes Jacques Vargas, destacou o desafio de discutir o tema. “O comportamento suicida sempre existiu na história da humanidade e foi tratado de diversas formas. Hoje, nossa sociedade ainda trata desse tema como um tabu”, observou.
A psicóloga Amanda Ferreira, representando a SED (Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul), lembrou que a escola é um espaço crucial de acolhimento. “A identificação e a articulação com a rede de saúde e de atenção psicossocial são fundamentais para garantir o atendimento e proteção desses jovens”, defendeu.
Vanessa Terena, representando a Articulação Brasileira dos/as Indígenas Psicólogos/as, abordou as dificuldades no tratamento de saúde mental entre os indígenas. “O poder público nos invisibiliza. Como tratar de saúde mental se nossos parentes mais velhos têm atendimento negado por não entenderem nosso idioma? Temos 1 psicólogo para cada 7 mil indígenas no MS”, disse.
Saúde Mental e Mães Atípicas
Na audiência, também estiveram presentes mães de Pessoas com Deficiência que denunciaram a falta de fornecimento de fraldas, remédios, nutrição, fórmulas e equipamentos pela Prefeitura Municipal de Campo Grande. Mesmo após decisões judiciais favoráveis, as crianças e pessoas com deficiência permanecem sem atendimento. Essa situação compromete a saúde mental dessas mães, que relataram mais de dois anos sem fornecimento regular desses insumos, uma situação inédita até então.