Já faz muito tempo que a humanidade vem perdendo seu lado humano no decorrer da sua idade. O progresso, na sua mais ampla definição, pode ser explicado de várias maneiras. Umas boas, outras não! Progresso é construção, mas também é degradação. É destruição da fauna e da flora e degeneração da atmosfera! É mostrar uma nova versão daquilo que um dia foi e que hoje, já era!
O progresso nos trouxe conforto, mas também nos deixou um tanto torto, nos fazendo viver em um mundo onde se mistura e se confunde, o fabuloso e o desastroso. O espantoso e o assombroso! Coisas que nos transformam às vezes, em um “vivo-morto”! Hoje, vivemos e convivemos com o resultado de tudo isso. Moramos em cidades cheias de motos, carros e smartphones. Artigos que se contrastam com lixo nas ruas e lixeiras vazias, mas cheias de logomarcas e nomes. Ruas cheias de bares, lanchonetes e restaurantes e, ao mesmo tempo, repletos de pessoas vestidas apenas em pele e osso e passando fome!
Mundo contemporâneo é isso! Pessoas com mil seguidores nas redes sociais, mas que jantam solitárias em seus apartamentos e almoçam sozinhas os seus churrascos mal passados em seus próprios quintais! Gente que vai para as “happy hours” das “hamburguerias” e das “tabacarias”, para afogar as mágoas e tristezas das suas horas tristes em copos cheios de bebida e vazios de vida.
Nas grandes cidades, em todos os bairros, condomínios e vilas, o que a gente vê, são pessoas cercadas por muros, grades, alarmes e concertinas. Não se sabe se isso é uma proteção ou uma armadilha! Essas coisas, dizem nos proteger dos perigos que vêm de fora, dos ladrões, das facções e das milícias e em certos momentos, até mesmo da própria polícia! Entretanto, fica aí uma pergunta que nos incomoda, nos preocupa e nos intriga: quais muros nos protegerão dos nossos medos, dos nossos traumas e das nossas feridas? Quais grades impedirão que sejamos atacados por nossos adversários domésticos e por nossos inimigos íntimos? Que proteção temos contra os abusadores, violentadores e feminicidas, que vivem dentro das nossas casas, bebendo dos nossos cálices, comendo das nossas comidas, mas que ao mesmo tempo, navalham as nossas carnes, atormentam os nossos espíritos e ceifam as nossas vidas?