Segundo infectologista, sintomas semelhantes podem ser distinguidos pelas dificuldades respiratórias
Há inúmeras preocupações entorno da alta de casos por covid-19 e dengue no Brasil. A nova angustia, ou talvez velha, é a coinfecção dessas duas doenças, recentemente, um bebê de oito meses de vida veio a óbito em decorrência as duas infecções. A equipe do jornal O Estado foi atrás de um especialista para saber quais são as chances desse evento acontecer, que constatou ser raro.
Em 2020, época de pandemia, a dra. Isabella Márcia Soares Nogueira Teotônio publicou uma pesquisa a respeito dessa anormalidade. A mesma, registrou que mais de 35% das pessoas positivas para covid-19 apresentavam o quadro de dengue, simultaneamente. Uma das explicações para a dificuldade da testagem é que a dengue é epidemiologicamente similar à infecção por Covid-19 e que apresenta características clínicas semelhantes ao vírus causador da covid.
“1859 pesquisas foram respondidas completamente. Em relação a coinfecção, de um total de 178 pacientes com sintomas de covid-19, cento e doze (63%) pacientes testaram positivo para covid-19, dos quais 43 (38,4%) estavam coinfectados com o vírus da dengue e 50 (44,6%) apresentavam anticorpos indicativos de infecção prévia por dengue. Os pacientes coinfectados apresentaram menor número de linfócitos e monócitos circulantes, maiores taxas de glicose e pior condição pulmonar. As infecções anteriores com o vírus da dengue não influenciaram os parâmetros clínicos, mas a dengue ativa resultou em um aumento da taxa de hospitalização”, relatou a dra.
O médico infectologista e doutor em Epidemiologia, Sérgio de Andrade Nishioka, esclarece em um estudo a reação cruzada dessas doenças, se baseando em dois casos similares, de infectados pelo vírus da Covid e que deram falso positivo para dengue. Além disso, em atualização da pesquisa, o médico concluiu que há também casos de coinfecção no mundo.
“Aparentemente os vírus da dengue e o novo coronavírus têm alguma similaridade antigênica, o que explicaria as reações cruzadas. Esses achados [casos similares] têm clara implicação prática, não só para o diagnóstico de covid-19 e de dengue em regiões onde ambas as doenças estejam sendo transmitidas, como também na interpretação de inquéritos soroepidemiológicos para estimar a prevalência de anticorpos contra o SARS-CoV-2 onde tenha ocorrido transmissão recente de dengue e a prevalência de anticorpos contra esses vírus (dengue 1, 2, 3 e/ou 4) seja alta”, pontuou.
Para o médio infectologista, Dr. Maurício Pompilio, o caso é uma raridade. O médico explica os motivos para isso. “É uma situação de extrema raridade, porque normalmente quando você está muito debilitado de uma das duas doenças, você já diminui a exposição para outra, por exemplo, se você está com dengue, você vai sair menos de casa e, portanto, vai ter menos contato com outras pessoas para pegar a covid, ou o contrário, a pessoa está com covid vai fazer isolamento domiciliar, a menos que o meu domicílio esteja infestado de mosquito para pegar dengue, talvez seja explicação. Agora, a gente tem que se cuidar das duas, mas não a preocupação de ter as duas, porque isso vai ser uma coisa muito rara”.
Como os sintomas são parecidos causa confusão nas pessoas. E também, como mencionado, as doenças têm similidade antigênica, basicamente o nosso organismo produz anticorpos parecido para combater essas doenças. Para esclarecer a população, o infectologista pontua as diferenças dos sintomas.
“Febre, dor de cabeça e dor no corpo são comum as duas doenças. A dengue não apresenta sintomas respiratórios, como espirro, coriza, tosse, não faz parte do quadro clínico de dengue. Então, quando eu tenho sintoma respiratório, que a gente chama isso de síndrome gripal, é mais provável que seja vírus respiratórios, o carro-chefe é o vírus da covid, mas poderia ser o vírus da gripe, que é a influenza, ou uma série de outros vírus respiratórios que existem. Em caso de dengue, eu não tenho sintomas respiratórios, a febre costuma ser muito alta, às vezes até com calafrio, há muita dor no corpo e muito mal estar, podendo ter vômitos, diarreia associada”, destaca o dr.Maurício Pompilio.
No caso de coinfecção, o infectologista informa que a medida é tratar os sintomas. Vale lembrar que cada caso tem sua especificidade e seu tratamento correto. Na questão, o médico reforça as medidas para amenizar os sintomas.
“Praticamente, as duas doenças o tratamento é de suporte, ou seja, eu controlo os sintomas que uma pessoa apresenta. Em casos de dengue, é fundamental a hidratação, então indivíduos maiores, a gente vai fazer hidratação oral, que é o soro caseiro. E se uma pessoa tem aqueles sinais alarmantes, que seriam os vômitos, sangramentos, desmaio, queda de pressão, a gente precisa procurar uma unidade de saúde, porque, às vezes, vai precisar de hidratação venosa na veia, o oral não será suficiente. Em caso de covid, a gente vai controlar os sintomas respiratórios, além da febre e do mal-estar, que seria a limpeza das narinas por conta da desordem que se acumula. Em crianças pequenas, eu tenho que fazer isso com mais frequência, porque se não vai atrapalhar a mamada, o nariz da criança, do bebê entope, a criança não consegue mamar, ela hidrata mais rápido”.
Com a informação O Estado.