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Anhanduizinho e Prosa agrupam 51% das favelas de Campo Grande

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Marcelo Victor/Correio do Estado
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De acordo com a Central Única das Favelas (Cufa), Capital tem mais de 15 mil barracos levantados e 43 comunidades, que abrigam mais de 36 mil pessoas

Nos últimos anos, o número de aglomerados subnormais, conhecidos como favelas, cresceu em Campo Grande. Atualmente, a Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS) contabiliza 39 favelas na Capital, sendo 51% nas regiões do Anhanduizinho e do Prosa. 

No entanto, de acordo com o levantamento feito pela Central Única das Favelas (Cufa), em Campo Grande, houve um novo aumento este ano, passando para 43 favelas, que somam mais de 15 mil barracos e mais de 36 mil pessoas morando nesses locais.

Segundo Letícia Polidorio, coordenadora da Cufa, houve um remanejamento de algumas favelas, feito pela Prefeitura de Campo Grande, o que resultou no aumento desses aglomerados. 

“Eles [prefeitura] pegaram uma favela e dividiram em dois, três lugares. A gente tinha a favela da Rua Poética, o Alphavela, eles tiraram o pessoal de lá e colocaram um pouco em dois lugares do Santa Emília e levaram um pouco para o Mário Covas. Então, aí já teve o aumento das favelas, pois tirou de lá, mas aumentou em três lugares”, comenta. 

De acordo com Letícia, a divisão ocorreu para repartir os terrenos em que os moradores poderiam construir suas casas. No entanto, muitos seguem morando em barracos pois não têm dinheiro para custear a construção. 

A coordenadora também aponta que houve um aumento dos atendimentos da Cufa nos últimos meses. A entidade auxilia os moradores das favelas com cestas básicas, atendimento psicossocial, cortes de cabelo, cursos e até mesmo com atenção à mulher, por conta da parceria com a Defensoria Pública da Mulher. 

Já a SAS realizou 355.586 atendimentos até outubro, enquanto no ano passado o total foi de 362.750, e em 2021, foram 285.264 atendimentos. Esse número não significa atendimentos apenas em favelas. 

“A SAS informa que os serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social atendem aos riscos e às vulnerabilidades, por isso, existe uma organização nos territórios para um melhor acesso da população e para melhor efetividade das ações, que contemplam todas as regiões do município, de modo que não se faz possível definir intervenções específicas dos aglomerados subnormais”, esclarece. 

No levantamento feito pela secretaria, as 39 favelas da Capital estão espalhadas por todas as regiões, menos no Centro. No Anhanduizinho, região com mais concentração de aglomerados subnormais, foram contabilizadas 11 comunidades; no Prosa, nove; no Imbirussu, seis; nas regiões da Lagoa e do Segredo, cinco comunidades cada; e na região do Bandeira, três.

MORADORES

Em uma rua sem asfalto, a faxineira Fátima de Barros tenta sobreviver ao calor intenso que faz na Capital. Sem geladeira por conta da precariedade do sistema elétrico da favela Homex, na parte da mata, a idosa relata que já teve carne, arroz e feijão estragados e que aguarda a chegada da filha, que vai lhe trazer uma geladeira usada.

“É na gambiarra. Nós já fomos na prefeitura para solicitar”, comenta a faxineira, que está na comunidade há sete anos e foi para o local em razão da falta de condição financeira para pagar aluguel e arcar com as contas de casa.

“Eu não tinha mais condições. Tive oito filhos, sofri muito para criar meus filhos. Teve muitas coisas que aconteceram na minha vida, uma mulher sozinha é difícil, né? Hoje em dia a vida da gente é vida de batalha, e o nosso dinheiro não dá para nada. Eu faço faxina aqui, faço faxina ali”, relata Fátima, que teme que aconteça na Homex o mesmo que aconteceu na Mandela.

Ana Paula de Souza também trabalha como faxineira e está há dois anos na Homex, por conta da falta de condições financeiras para pagar aluguel. “O nosso problema aqui é energia, o poste só vai até o lado de lá. O problema é água também, falta muita água aqui, é constante a gente estar sem água até para dar banho nas crianças, para a gente tomar banho”, pontua a moradora.

Os moradores da Homex relatam que estão em contato direto com a prefeitura, por meio, principalmente, do vice-presidente do bairro, Francisco Jailton Guimarães Saraiva, o Jajá, que mora no local há seis anos e meio. Todos afirmam que os pedidos estão em andamento e que acreditam que em breve eles serão sanados.

A Homex tem uma parte territorial intitulada mata, que é onde estão localizados a maioria dos lotes sem regularização, com falta de água e de energia. Apesar da situação, os moradores da “mata da Homex” estão confiantes. 

“Fé em Deus, em breve vai estar regularizado. Hoje 90% está regularizado”, diz Jajá, que também informa que foi dado início, na prefeitura, no processo de instalação de energia na mata.

“Não passava caminhão de lixo aqui, ele [Jajá] que arrumou para a gente. Aqui quando chove é um rio, não passa carro, tem pernilongo, tudo”, relata Fátima.

MANDELA

Na quinta-feira (16), um incêndio de grandes proporções atingiu mais de 100 barracos na comunidade do Mandela. A causa da tragédia ainda está sendo investigada, mas o Corpo de Bombeiros informou que pode ter sido um curto-circuito ou fogo ateado em um barraco que acabou se espalhando pela comunidade.

A prefeitura disponibilizou uma escola para que as famílias atingidas pudessem ter abrigo e liberou R$ 500 do aluguel social para os interessados. No entanto, a maioria das pessoas preferiu permanecer no local, seja por medo de perder o pouco que restou ou por medo de perder o terreno.

Por conta da situação, o Exército instalou 14 tendas para o acolhimento de quem preferiu ficar na Mandela. A prefeitura e a Cufa também disponibilizaram alimento para as famílias.

Médicos, enfermeiros, dentistas e agentes de saúde que trabalham no posto do Jardim Presidente também estão atuando no atendimento aos atingidos pelo incêndio. Apesar de não haver vítimas, os agentes estão verificando a situação de saúde das pessoas que inalaram fumaça no ocorrido.

Eneas Netto, da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep), ressaltou que os abrigos são provisórios e que a infraestrutura do local será discutida. A Sisep também vai “puxar uma extensão” de iluminação pública para gerar luz durante a noite.

A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, afirmou que famílias e pessoas que ficaram desabrigadas não deverão permanecer no terreno, por se tratar de uma Área de Preservação Permanente (APP). Assim, aqueles que perderam tudo serão remanejados para um terreno que a administração municipal está buscando.

Como os moradores da comunidade deixaram claro que querem seguir residindo na região, muito por conta de várias famílias terem filhos em escolas em bairros próximos, a prefeitura levará em consideração a demanda popular. “Aqui neste espaço não será possível reconstruir, será onde o município vai disponibilizar”, adiantou Adriane Lopes.

HISTÓRICO 

Em 2011, foi iniciado um processo de “desfavelização” na Capital, feito pelo então governador André Puccinelli, tirando mais de 1.044 famílias de 178 favelas. O ex-prefeito Nelson Trad, na época, declarou que havia herdado de Puccinelli 16 ocupações, e que em 2012 Campo Grande não teria nenhuma favela. 

Porém, não foi o que ocorreu. Em 2021, na gestão de Marcos Trad, a Capital já havia chegado a 38 favelas contabilizadas, com 4.516 moradias distribuídas entre as ocupações. 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que o número de famílias que moram em favelas aumentou 697% em Campo Grande em 2020.

Saiba: O IBGE também aponta que, em 2019, no Brasil, havia 13,1 mil favelas e 5,1 milhões de domicílios ocupados em 734 municípios de 26 estados e do Distrito Federal. Mato Grosso do Sul apresentava a menor proporção de aglomerados subnormais na pesquisa, com 0,74% e 6.766 barracos. 

Com a informação o Correio do Estado.