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“Vou entrar com ações, está caracterizado flagrante forjado”, diz Delcídio do Amaral

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Ex-Senador Delcidio do Amaral.
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‘É algo que passou e trabalhei muito nisso. Foram sete anos para ser inocentado em sete minutos’, diz Delcídio

O ex-senador Delcídio do Amaral, em tom de desabafo, comentou sobre a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, que suspendeu as delações da Odebrechet na Lava Jato, que se aplicou uma semana antes em seu processo de sete anos. Segundo explicou, no seu caso, ele foi inocentado, pois quiseram imputar a ele uma ação criminal por obstrução à Justiça. No entanto, ele diz que utilizou os ritos normais e que, durante sete anos de luta, sua inocência foi decidida em apenas sete minutos.

O argumento no julgamento final foi de que as provas foram forjadas, uma vez que houve uma gravação sem autorização judicial. Tanto assim, explica Delcídio, que o presidente da turma do julgamento chegou e dizer para votar logo, pedindo ao relator para ler a ementa e que não precisava ler o voto, por ser uma excrescência tão grande que ele queria tirar de pauta.

O ex-senador alega que entrará com ações de perdas e danos contra a União, a família Cerveró e o procurador que cuidou do caso. Argumenta que fará isso para evitar que outras pessoas sofram o mesmo erro que foi cometido com ele. Delcídio acredita que esse processo de reparação poderá durar anos e que seus netos terão conhecimento, mas que avisou as filhas para que não fiquem com a indenização e utilizem para fazer o bem.

Na comparação entre o seu caso e o do presdiente Lula, o ex-senador comenta que ele foi inocentado, já no caso do presidente Lula, ele chegou a ser condenado e posteriormente deixou de ser condenado.

Na esfera política, o ex- -senador deixa claro que se organiza com calma para dar a volta por cima. Lembra que o partido que preside, o PTB, aguarda a homologação da fusão com o Patriota e irá se chamar Mais Brasil, tendo o número 25.

A partir daí, vai organizar a sigla e acredita que ela terá grande força política. Só então começará a estudar seu retorno à política, talvez daqui a três anos e com força total, em sua visão.

O Estado: O que significa essa decisão do ministro Dias Toffoli, anulando a delação da Odebrecht em relação ao seu caso?

Delcídio: Primeiro, na verdade, eu tive uma decisão semelhante uma semana antes dessa do Lula, do Toffoli também. Só que é diferente dos outros, porque o processo que me levou à cassação e à prisão, neste, eu respondia por obstrução de Justiça. Então, eu segui o bom Direito. Eu não usei chicana, não usei mudança de foro, não usei caducidade. Fui inocentado em primeira instância. O Ministério Público recorreu e levou para a segunda instância. Nesta, eu fui inocentado e caracterizaram flagrante forjado me gravar ilegalmente, sem autorização judicial. Portanto, quando transitou em julgado, que é a segunda instância, eu não só fui inocentado por unanimidade, mas também a turma votou pela ilegalidade das provas. Então, esse foi o processo que gerou todo um transtorno na minha vida e outros que surgiram, ao longo do tempo, até em função de colaborações premiadas de terceiros. Isso tudo ou foi sendo arquivado ao longo do tempo, até por causa de decisão inicial, ou foi para a esfera eleitoral, ou seja, não foi para crime de corrupção, lavagem de dinheiro, nada disso. Do processo principal eu me livrei, fui inocentado, e isso acabou levando ao arquivamento de outros processos e aquilo que sobrou foi para o eleitoral. Não ficou na esfera criminal, como tentaram fazer aqui, porque quando veio para cá, para o eleitoral, eles tentaram caracterizar como criminal para levar para Curitiba. Mas aí, depois de reclamações que apresentamos ao TSE e ao STF, eles reconheceram que era eleitoral e fim de papo.

Foram sete anos para ser inocentado em sete minutos, em que o presidente da turma chegou e disse assim: ‘Vamos votar esse negócio logo, peço para o relator ler a ementa e não precisa ler o voto, não, porque isso é uma excrescência tão grande que eu prefiro já tirar isso aqui de pauta’. Em respeito à minha história, da minha família, dos meus amigos, do meu Estado, que representei com honra, porque tinha mandato popular e de um protagonismo enorme. Não estou dizendo que outros não tenham também, mas sei o que eu fiz. E fui político. Depois, por ter uma história como executivo, de presidente do Conselho da Vale e ministro de Estado, com o presidente Itamar, diretor da Petrobras, diretor do Sistema Eletrobras, secretário de Infraestrutura. Isso não foi mole. O que eu já fiz na minha vida, vivi na Europa, andei pelo mundo. Vão ter que me engolir daqui a um ano, ou daqui a três anos, no máximo.

O Estado: A partir desse momento, acha que deve existir algum tipo de reparação, seja moral ou até mesmo financeira?

Delcídio: Aliás, essa é uma excelente pergunta. Eu vou entrar com ações agora, pois, como está caracterizado um flagrante forjado, não perco meu tempo olhando para o retrovisor, por assim dizer. O negócio é olhar para a frente, mas, até para servir de exemplo para pessoas que possam vir a ser vítimas do mesmo que aconteceu comigo. Vou acionar a União por perdas e danos, não tenho dúvida. Não posso acionar o Senado, porque este não é uma figura jurídica. Vou acionar a família Cerveró e também o procurador Marcelo Mira. Estamos olhando se tem algo mais que a gente deveria, eventualmente, tomar providências para evitar que coisas como essa se repitam. E, na verdade, por exemplo, o caso do Marcelo Mira é o mesmo que levou o Joesley a gravar o Aécio. É o mesmo que levou a gravar o Temer, é o mesmo procurador, ou seja, é um modelo que ele começou comigo e deu sequência. Isso vai ensejar uma série de ações por perdas e danos. Talvez não esteja vivo para ver isso acontecendo, mas minhas filhas e meus netos irão.

A única coisa que eu pedi é para que elas usem esse dinheiro com boas ações. Ele tem que ser usado por bons motivos, por boas ações, para ajudar as pessoas, porque ele é fruto de um sofrimento muito grande, que eu tive nesses sete anos, que não foi mole e não desejo para ninguém.

O Estado: Politicamente, o que irá mudar?

Delcídio: Estou aguardando a homologação da fusão do PTB com o Patriota. No PTB, tivemos muitos problemas, bloquearam os fundos eleitorais por causa das desavenças do Roberto Jefferson com o Alexandre de Moraes, fora outros problemas que ocorreram também com o próprio Roberto. Isso prejudicou muito a campanha, prejudicou tudo. Na verdade, a campanha parou porque faltou dinheiro e agora, com a homologação, nós vamos colocar a vida financeira do partido em ordem. Devemos ter uma decisão já nos próximos dias. A gente vai viver um novo momento, mas com um partido que, com a fusão, vai se chamar Mais Brasil. O número é 25, o número do antigo PFL DEM.

Aprendi, na minha vida, por tudo isso que passei, que algumas vezes, algumas coisas que são ruins viram boas e algumas coisas que eram boas ficam ruins, primeiro. Hoje, sei quem sempre esteve comigo e quem não esteve. O partido que vai surgir é diferente, pois, com a experiência que passamos, traremos pessoas além daquelas que efetivamente vieram conosco, as que não encontram espaço nessa política atual do Estado e vão buscar uma alternativa para se projetar. O meu compromisso é com essa construção. Agora, não só sob o ponto de vista jurídico que as coisas se consolidaram e essa minirreforma cria as condições para, mesmo que inventem alguma chicana jurídica, sob o ponto de vista de decisão do Congresso, não se questionará mais.

O Estado: Falando especificamente para 2024, com a fusão entre PTB e Patriota, acha que o partido ganha corpo suficiente, aqui no Estado?

Delcídio: Ganha, sim. Quando aconteceu a suspensão do Fundo Eleitoral, nós e o próprio Roberto Jefferson achávamos que o partido sairia esfacelado. A fusão vai aumentar o tamanho do partido. Então, é evidente que a gente tem que ter o pé no chão. Não podemos errar. Precisa haver humildade, para ver até onde vamos. Acho que depois de tudo, nós vamos sair desse processo, sob o ponto de vista partidário, melhor do que entramos, ou seja, em condições de fazer uma eleição minimamente organizada, com unicidade, com discurso político, daqui a um ano, como também daqui a três anos. Conseguiremos botar a nossa escola na rua, daqui a um ano.

O Estado: Agora, em 2024, poderá sair candidato?

Delcídio: Estou trabalhando em vários projetos na área de energia e fora do Brasil. Então, isso vai me ocupar muito. Também, estou me preparando para voltar, sem chance de errar, porque estou em reais condições de fazer uma boa disputa. Estou fazendo as coisas com muita cautela, não preciso atropelar nada. Tenho que ter tranquilidade, para fazer um bom trabalho à frente do partido e criando uma base sólida.

Eu vou voltar e vão ter que me engolir de novo, porque não acabou minha missão aqui. Como eu sou um sul- -mato-grossense que conhece o mundo, acho que tenho muito a contribuir para o nosso Estado, porque venho de áreas tecnológicas, áreas que planejam, que têm projeto, antenadas com o que acontece no mundo. Estou preocupado porque, ao se avaliar bem o Centro-Oeste, considerando os Estados vizinhos, somos o que está em condições piores. E Mato Grosso do Sul não enxergou o que o Milton Nascimento disse em uma música, ao falar que o Brasil iria de costas para o Brasil. O Brasil vivia no litoral. Quando veio Juscelino, nasceu Brasília. O Brasil começou a olhar para o Brasil profundo. Só que nós estamos de costas para a Bolívia, para o Paraguai e a saída para o Pacífico. Temos que estar de frente. Não precisamos ter uma mentalidade de Mato Grosso do Sul sendo um fazendão, porque com o povo que tem e com o potencial do nosso Estado mesopotâmico, de um lado, temos o rio Paraná, do outro, o rio Paraguai, fronteira com Bolívia, Paraguai, acesso ao Pacífico, acesso ao Atlântico, os Estados mais ricos da Federação fazendo divisa, não é possível que Mato Grosso Sul seja só isso, precisamos ser muito mais. Acho que é aí que eu tenho todas as condições de contribuir, de ajudar e continuar o meu projeto, que não podia terminar assim, até por tudo que eu fui. Deus é justo e eu confio nisso.

O Estado: Qual a diferença da sua decisão para a do presidente Lula?

Delcídio: Quanto à minha, segui todas as instâncias para ser absolvido e caracterizado. O flagrante foi forjado. No caso do presidente Lula, ele tinha sido condenado em várias instâncias, mas deram o encaminhamento que não cabe a mim fazer juízo de valor, em instância, caducidade. Na verdade, ele deixou de ser condenado. Ele chegou a ser condenado, mas não que tenha sido absolvido, inocentado. O único processo que ele foi inocentado e que ele, inclusive, entrou na Justiça contra mim por causa disso, que fui inocentado também, é obstrução de Justiça. Quer dizer, nossos advogados estavam juntos nesse processo. Só que eu segui o rito e, nesse processo específico, ele seguiu também. Agora quanto aos outros, eu não sei, não conheço os detalhes do processo, mas essa é a diferença entre eles. Acho que é com relação à maioria do pessoal da Lava Jato, porque eu não fui denunciado por corrupção. Fui denunciado e sofri por obstrução de Justiça. Tentaram cravar outros tipos de crimes, mas que não resistiram ao andamento. O que permaneceu foi para o foro eleitoral.

O Estado: Que análise faria hoje, do governo Lula?

Delcídio: Espero que o presidente Lula tenha sorte e sucesso, mas tenho algumas preocupações. Tem uma letra do Cazuza que diz assim. ‘Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de grandes novidades’. As coisas que estão sendo colocadas dentro dessa palavra, que eu estou começando a odiar, que é a ‘narrativa’, são coisas de um Brasil que não existe mais. Claro que, sob o ponto de vista social, as políticas têm acertos. Precisamos ter um governo, um Estado perene, forte, assim ele irá consolidar, criar alternativas, criar futuro para as pessoas. Não se pode transformar as pessoas em escravas de programas sociais a vida inteira. Elas querem trabalhar, querem ser exemplo para seus filhos, querem vê-los bem, produzindo, gerando riqueza, com conforto, com saúde e com educação, principalmente. Vejo alguns pontos do governo com muitas preocupações.

Com a informação O Estado.