PF cumpriu 17 mandados de busca e apreensão contra líderes que não aceitam resultado do pleito e que pedem intervenção militar
Em uma das maiores investidas contra pessoas que discordam do resultado das eleições que definiram Luiz Inácio Lula da Silva como presidente do Brasil e que promovem desde o fim do pleito, no dia 30 de outubro, protestos em rodovias e em frente aos quartéis do Exército, um dos quais em Campo Grande, a Polícia Federal (PF), por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cumpriu ontem 17 mandados de busca e apreensão em Mato Grosso do Sul.
Entre os alvos das ordens judiciais estão um ex-prefeito, uma médica e suplente de deputada federal e uma jornalista, que também se candidatou nas eleições, além de empresas cujos donos estariam envolvidos nos protestos.
A Superintendência da PF em MS não divulgou a relação dos investigados, contudo, a reportagem apurou nomes de três dos alvos: Waldeli Rosa dos Santos, que foi prefeito por 16 anos, entre 2001 e 2020, da cidade de Costa Rica; Sirlei Ratier, médica, que disputou vaga de deputada federal pelo PP em outubro e virou suplente; e, ainda, a jornalista Juliana Gaioso Pontes, que concorreu pelo PRTB ao mandato na Câmara dos Deputados.
Os três confirmaram que foram alvos da ofensiva do STF. Há na relação mais quatro pessoas que estariam na mira do Supremo e que seriam ligados ao agronegócio.
Os manifestantes, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), contrariando a compreensão do TSE, não querem acatar o desfecho do pleito, mostram-se contrários à posse de Lula e também pedem intervenção militar.
CRIMES
De acordo com decisão do STF, os envolvidos teriam praticado crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Os implicados seriam chefes, financiadores, organizadores e fornecedores de apoio logístico e estrutural dos bloqueios que ocorreram em MS. Hoje, contudo, as estradas já foram desbloqueadas.
Na lista dos investigados aparecem, ainda, donos e condutores de caminhões que agiram nas manifestações.
Eles, segundo informações apuradas pelo Ministério Público, atuaram nos protestos amparando os manifestantes na logística, com a queima de pneus em rodovias, estruturação de barracas, transporte de refeições e banheiros químicos.
Informações da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de MS (Sejusp), enviadas ao STF, contribuíram na construção das petições judiciais.
Reportagem publicada pelo Correio do Estado no mês passado divulgou a relação da Sejusp.
Lá apareceram os nomes de Sirley, Juliana e Waldeli e também de Júlio Augusto Gomes Nunes, Germano Francisco Ballan, Rene Miranda Alves e Renato Nascimento Oliveira, o Renato Merem, ligados a negócios pecuários. A reportagem tentou contato, mas eles não foram localizados.
ATAQUES
Também caíram nas investigações pessoas que atacaram integrantes do STF e financiaram as milícias digitais.
Aqui em Campo Grande, por exemplo, os manifestantes, perto de um quartel situado na Avenida Duque de Caxias, puseram a imagem de Alexandre Moraes com dizeres que suscitam a morte do ministro do STF.
O Supremo mandou a PF cumprir 103 mandados de busca e apreensão, 17 deles em MS, no Distrito Federal e em sete estados: Espírito Santo, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Acre, Amazonas e Rondônia.
CACS SUSPENSOS
Embora sem citar onde ocorreram as apreensões, policiais federais acharam em casas dos implicados no caso até submetralhadoras e fuzis.
Além dos mandados de buscas e apreensão, a Corte determinou a suspensão de certificados de caçadores, atiradores e colecionadores (CACs).
Ordenou, ainda, bloqueios de contas bancárias e a suspensão de 168 perfis em redes sociais de dezenas de empresários, que seriam simpatizantes do presidente Bolsonaro, suspeitos de financiar os atos tidos como antidemocráticos.
Questionado sobre o número de CACs que têm a permissão para porte de arma, o Comando Militar do Oeste (CMO) informou ao Correio do Estado, em reportagem publicada em novembro, que MS conta com 16.356 caçadores catalogados e ativos.
RESPOSTA
Antes de ter seu perfil suspenso no Instagram, o ex-prefeito de Costa Rica Waldeli dos Santos Rosa usou sua página, pela manhã, para comentar a operação da PF, afirmando que, segundo ele, “sempre defenderá a democracia, o Estado Democrático de Direito e a liberdade individual”.
O empresário do segmento rural ainda disse que recebeu com “naturalidade a intimação para prestar esclarecimentos acerca da sua defesa em prol da liberdade de expressão”. Na eleição de outubro, Waldeli, que é do MDB, doou R$ 85 mil ao então candidato ao governo de MS André Puccinelli.
O Correio do Estado entrou em contato com a jornalista Juliana Gaioso, que concorreu à vaga de deputada federal pelo PRTB, mas ela afirmou que apenas se pronunciará com seu advogado.
Não conseguimos contato com a médica Sirlei Ratier, mas o espaço continua aberto caso ela queira se posicionar. A campanha de Sirlei ao mandato de deputada federal, segundo informações do TSE, foi de R$ 442 mil, a maior parte saída de seu partido, o PP.
Saiba: A operação da Polícia Federal contra investigados em inquérito que apura atos antidemocráticos teve 103 mandados de busca e apreensão cumpridos nesta quinta-feira, sendo 17 em Mato Grosso do Sul.
Conteúdo retirado do Correio do Estado.