Operação que desarticulou tentativa de resgate de presos da facção cumpriu mandados em Campo Grande e Três Lagoas
A Polícia Federal conseguiu desarticular um plano de fuga que resgataria alguns dos principais chefões da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Mato Grosso do Sul, que tem grande quantidade de membros da quadrilha, era um dos estados-chave para que o plano fosse executado e foi um dos locais onde a Operação Anjos da Guarda cumpriu mandatos.
Ao todo, foram 11 mandados de prisão e de busca e apreensão em Campo Grande, Três Lagoas, São Paulo, Presidente Prudente (SP), Santos (SP) e Brasília (DF). A Polícia Federal não detalhou a quantidade de mandados em cada local, entretanto, divulgou que 80 policiais foram mobilizados em toda a ação.
Entre os presos a serem resgatados estão os cabeças da organização criminosa, como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, Cláudio Barbará da Silva, o Barbará, Valdeci Alves dos Santos, o Colorido, Edmar Santos, Reinaldo Teixeira dos Santos e Esdras Augusto do Nascimento Júnior.
Os presos alvos do plano de fuga estão detidos nas penitenciárias federais de Brasília (DF) e Porto Velho (RO).
O último da lista citada acima, inclusive, teve passagem pelo Presídio Federal de Campo Grande, mas foi transferido para outra penitenciária ligada ao Departamento Penitenciário Federal (Depen).
Apontado como principal liderança do PCC, Marcola foi transferido de um presídio paulista para a Penitenciária Federal de Brasília em março de 2019. Mas, atualmente, se encontra no presídio federal em Porto Velho (RO).
A esposa de Marcola, Cynthia Giglioli Herbas Camacho, foi um dos alvos da investigação. Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido em sua residência, localizada em Alphaville, na Grande São Paulo. Ela mora com a irmã do líder do PCC, que é advogada e apontada como integrante do grupo que planejava os ataques para resgatar os presos.
INVESTIGAÇÃO
Conforme informações da PF, o PCC planejava sequestrar autoridades e desenvolver outras ações para conseguir a soltura das lideranças da facção.
Para descobrir isso, segundo a Folha de São Paulo, os policiais mapearam o uso de códigos, como “STF” e “STJ”, para designar as táticas que seriam utilizadas na ação de resgate.
A apuração começou em dezembro de 2021, após o setor de inteligência do Depen informar à PF que lideranças do PCC, em conversas com advogados, citavam nomes de defensores e “recursos ao STF [Supremo Tribunal Federal] e ao STJ [Superior Tribunal de Justiça]” para cobrar o andamento do plano.
A PF então descobriu que os nomes dos advogados e dos recursos às cortes superiores não existiam de fato e passou a apurar a suspeita de uso de códigos para designar os planos de fuga.
A partir daí, com base em interceptações telefônicas, quebras de sigilo telemático e conversas gravadas no parlatório dos presídios federais, os investigadores descobriram a existência de possíveis três planos de fuga articulados pelos advogados e por integrantes da facção em liberdade.
O primeiro deles, designado pelo código “STF”, mirava a fuga de lideranças, entre elas Marcola, do presídio federal em Brasília.
No plano elaborado pela facção estava previsto utilizar a tática conhecida como “novo cangaço”, empregada por integrantes da facção em roubos a bancos no interior do País. A ideia envolveria cercar o presídio em Brasília e resgatar Marcola e outras lideranças.
Dados coletados pelos investigadores apontam que o plano utilizaria de 40 a 60 homens fortemente armados, que participariam do ataque à penitenciária de segurança máxima.
O outro plano, designado pelo código “STJ”, mirava o sequestro de diretores do Depen para posterior troca pela liberdade das lideranças da facção.
E um terceiro plano, caso os dois primeiros não obtivessem sucesso, era gerar uma megarrebelião no presídio federal para facilitar a fuga das lideranças.
A PF afirma que tomou várias medidas para evitar que os planos fossem colocados em prática desde que percebeu a intensificação dos pedidos das lideranças, entre elas Marcola, para que os advogados acionassem os responsáveis pela execução.
SINTONIA DOS GRAVATAS
A operação recebeu o nome de Anjos da Guarda em razão de uma rede de comunicação integrada por advogados, chamada “Sintonia dos Gravatas”, que atuavam para o PCC e estavam envolvidos na organização do plano.
“Para organizar as atividades ilícitas, os investigados se valiam dos atendimentos e das visitas em parlatório, usando como códigos para a comunicação situações jurídicas que, comprovadamente, não existiam de fato”, destaca a PF.
A investigação indica que a fuga é planejada há anos pelo grupo criminoso, com início quando Marcola ainda estava preso no sistema penitenciário estadual de São Paulo.
Esse grupo tem ramificações em Mato Grosso do Sul e, em março deste ano, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) deflagrou uma operação que tinha como principal alvo advogados que trabalhavam para o PCC, além de servidores do Poder Judiciário.
Foram 38 mandados em Campo Grande, Dourados, Jardim e Jaraguari, que tinham como alvo 29 pessoas, das quais 11 eram advogados que atuavam para a facção criminosa.
Conteúdo retirado do Correio do Estado.