Com crescimento de 0,4% no segundo trimestre, PIB do principal parceiro comercial do Estado foi revisado para 4% em 2022
As estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) chinês vêm sendo revisadas para baixo. Espera-se um crescimento próximo de 4% em 2022, abaixo da meta de 5,5%. A desaceleração do país pode refletir em queda das exportações em Mato Grosso do Sul e expõe a dependência do Estado do país asiático.
O país asiático compra quase 50% da produção estadual. Em 2022, no intervalo de janeiro a junho, foram US$ 1,804 bilhão em exportações para o país, ante US$ 1,828 bilhão no ano passado – queda de 1,31% em valores negociados.
Neste período, a China comprou principalmente três produtos: soja, celulose e carne. Em seis meses, foram exportados US$ 435,982 milhões em soja, US$ 342,313 milhões em celulose e US$ 197,632 milhões em todos os tipos de carne bovina.
De acordo com o secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, 31% de tudo o que o Brasil produz é enviado para o mercado chinês e, no caso de MS, a dependência é ainda maior, 50% da produção é destinada àquele país.
“Então, a gente faz um acompanhamento muito forte em relação à China. O que observamos no curto prazo e que temos de olhar é se essa redução do crescimento da China reduz a demanda e como isso impacta o preço”, elenca.
O secretário ainda ressalta que os dados vieram como uma surpresa, já que a expectativa anterior era de um PIB de 5,5% para 2022.
“Na verdade, o PIB é positivo, mas com um crescimento menor do que na saída da pandemia. Então a gente tinha uma expectativa de um crescimento, praticamente o dobro do que foi apresentado, e a sinalização do último trimestre realmente criou uma preocupação mundial”.
Verruck frisa que o país asiático é o principal exportador e importador mundial. Com a política de Covid Zero adotada pelo governo chinês, já era possível sentir atrasos na entrada de produtos no país, oscilação de preços no mercado internacional e complicações logísticas para diversas cadeias de produção do mundo todo.
O doutor em Economia Michel Constantino pontua que os dados ainda estão aquém daqueles apresentados no primeiro semestre de 2021 em âmbito nacional.
“Quando olhamos os dados de exportação do Brasil e de MS, o volume de nossas exportações nacionais para a China caiu 7% no primeiro trimestre de 2022 em relação ao mesmo período de 2021”.
O PIB chinês para o segundo trimestre, em 0,4%, acendeu um alerta de que a retomada econômica não será tão tranquila. A expectativa era de que o indicador apresentasse algo em torno de 1%.
O economista Márcio Coutinho diz que será um cenário muito ruim caso haja diminuição do volume exportado para o país asiático.
“Obviamente, a China não vai parar de comprar commodities, ela pode reduzir. Eles dependem disso. Isso aí deve gerar, pontualmente, uma queda para nós aqui, mas eu entendo que não vai ser tão significativa assim, em função da necessidade da própria China de suprir suas necessidades”, analisa.
OPÇÕES
Entre as possibilidades para driblar a dependência do País estão a abertura de novos mercados, ou seja, diversificar os consumidores da produção local, e ainda investir mais na industrialização do que é produzido em MS para agregar valor aos produtos.
O secretário aponta que MS tem se empenhado em estruturar a cadeia produtiva. “Conseguimos estabelecer um rumo para o Estado. Fizemos isso com diversificação, agroindustrialização e aumento das nossas exportações com diversificação também dos mercados internacionais”, disse.
O analista de Comércio Exterior Aldo Barrigosse acredita que a diversificação de mercado é sempre importante e reduz riscos.
“Concentrar venda em poucos mercados é muito arriscado para o exportador, pois, se tivermos qualquer problema com o mercado de destino e ele tiver uma fatia grande, isso reduzirá nossa produção, poderá gerar desemprego, uma receita menor, entre outros impactos”, avalia.
A economista Adriana Mascarenhas ressalta que já houve impacto negativo quando houve fechamento de mercado.
“A gente já viveu isso no passado com a carne suína. Na ocasião, foi a Rússia que deixou de comprar. Por isso é muito importante que haja diversificação quanto aos parceiros comerciais”.
A mudança no perfil exportador de MS também ajudaria a reduzir tal dependência, de acordo com os especialistas.
O PIB chinês chegou a crescer 14,2% em 2007 e despencou a 2,2% no primeiro ano da pandemia (2020).
O peso dos chineses no comércio exterior brasileiro se intensificou desde 2009, quando eles superaram os norte-americanos como principal destino das exportações brasileiras.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, concorda que o Brasil se encontra em uma situação de dependência muito elevada.
“Podemos ter problemas nos próximos anos, basta ver que os Estados Unidos estão fazendo um esforço para retirar empresas da China. A nossa fragilidade é muito maior”, afirmou.
IMPACTO
Apesar dos temores do mercado, Verruck acredita que dois dos três principais produtos da balança comercial sul-mato-grossense – a soja e a carne – não devem apresentar redução de demanda pela China.
“A gente vê claramente que a demanda por soja não deve reduzir. Até por causa da pandemia, você aumenta muito a questão da alimentação, inclusive alimentação domiciliar. A China precisa manter a sua estrutura de produção de proteína animal, principalmente de frango e suíno. Ela precisa da soja brasileira, então esse é o principal ponto, porque você não tem, na verdade, outro grande player internacional para fazer esse fornecimento”, explica.
Constantino diz que essa desaceleração da economia Chinesa não teve efeito por enquanto. “No curto prazo não teremos mudança de preço das commodities, pois a oferta mundial não atende à demanda e continuaremos com o agro puxando a economia para cima, então esse ‘temor’ não teve efeito ainda”.
Conteúdo retirado do Correio do Estado.