Entre 2020 e 2021, houve aumento de pouco mais de 15% na supressão de vegetação nativa no bioma do Estado
O uso de satélites, além de sobrevoo e vistorias em campo, ajudou a construir um panorama do desmatamento no Pantanal de Mato Grosso do Sul. Dados mais recentes, divulgados ontem (18) pelo MapBiomas, identificaram que o bioma sofreu supressão de áreas nativas de forma mais aguda nos municípios de Aquidauana, Miranda e Coxim, totalizando 32 áreas nessas localidades.
O tamanho do desmatamento variou, sendo em alguns casos em território maior e em outros mais setorizados.
O estudo indicou que, entre 2019 e 2021, houve aumento das notificações sobre desmatamento, saindo de 204 para 295. Enquanto isso, as áreas que foram atingidas aumentaram nestes três últimos anos.
Em 2019, 12.495 hectares foram suprimidos; já em 2020 esse número subiu para 24.784; passando, então, para 28.671 hectares no ano passado. Para garantir que essas informações sejam procedentes, o MapBiomas faz a identificação por satélite e repassa coordenadas para entidades locais conferirem a situação.
No caso de Mato Grosso do Sul, o SOS Pantanal, ong que integra o Observatório Pantanal, fez a verificação nas coordenadas. O MapBiomas enviou a averiguação de 23 pontos e, durante essa apuração, feita de forma aérea, outras nove áreas acabaram identificadas.
Nesse estudo quantitativo, a partir de cruzamento de dados de geolocalização e do Cadastro Ambiental Rural (CAR), o projeto informou que 94% dos casos de desmatamento configurados ocorreram em propriedades particulares.
O MapBiomas é um projeto que faz parte do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG/OC) e envolve uma rede colaborativa formada por ongs, universidades e empresas de tecnologia. Para o Pantanal, a coordenação fica por conta do Instituto SOS Pantanal e da ArcPlan.
O sistema que acompanha a situação no bioma é o Sistema de Detecção de Alerta de Desmatamento no Pantanal (SAD Pantanal), desenvolvido pelo SOS Pantanal e pela ArcPlan.
Foram utilizadas como referência para localizar os focos de desmatamento imagens de satélite diárias de alta resolução espacial (3 m). Ele estava em fase beta de testes em 2021 e para este ano a sua aplicação passa a ser operacional e com maior alcance de acompanhamento.
O MapBiomas ainda pondera que algumas áreas desmatadas tinham autorização legal para supressão da vegetação, porém, estas são minoria.
“Mais de 98% dos alertas de desmatamento [95% da área total desmatada] não possuem autorização de supressão de vegetação registrada no Sinaflor/Ibama. A autorização é obrigatória para atividade legal no Brasil. Os alertas sobrepostos às propriedades que já possuem alguma área previamente embargada pelo Ibama correspondem a 5% do total em área”, informou o projeto.
Outro ponto identifica que os desmatamentos ocorreram em 2021 principalmente nos meses de junho a agosto, época mais seca e propícia para ocorrer incêndios florestais. Em agosto de 2021, 3.972 hectares foram desmatados.
A superação dessa marca de mais de 3 mil hectares com vegetação suprimida só ocorreu nesse período de três meses do ano passado.
Conforme apurado com o SOS Pantanal, essa identificação de desmatamento no período de inverno e quando ocorre incêndios não pode ser atribuída ao maior número de casos de fogo. Não houve essa vinculação identificada no estudo.
O desmatamento no Pantanal em 2021 ocorreu em 27.214 hectares de Mato Grosso e em 1.781 hectares em Mato Grosso do Sul. Todo o bioma tem 138.183 km², ou mais de 13,8 milhões de hectares. Esse território todo está 65% em MS e 35% em Mato Grosso.
O projeto MapBiomas reconheceu que o tipo de vegetação do Pantanal permite que haja dados subestimados.
“No Cerrado, na Caatinga, no Pampa e no Pantanal, o predomínio é de outras formações não florestais. Como a detecção de desmatamento em vegetação nativa não florestal ainda é deficiente, os alertas nestas classes são subestimados”, detalhou o MapBiomas.
SERVIÇOS AMBIENTAIS
A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) disse que as propriedades rurais estão engajadas em ações de preservação.
A Lei nº 5.235, de 2018, e a Resolução nº 717, de 2020, são legislações que envolvem esses serviços ambientais. O primeiro edital nessa linha de incentivo foi lançado no ano passado.
Por meio do programa, o governo estadual vai pagar R$ 942.849,85 a 42 propriedades rurais cadastradas nas bacias hidrográficas dos rios Formoso e da Prata.
De acordo com a Famasul, a área com vegetação nativa em estágio primário ou secundário avançado de regeneração dentro das propriedades rurais ultrapassa 12,5 milhões de hectares. Isso equivale a 35% da área do Estado.
A reportagem procurou o Ibama, porém, não obteve retorno até o fechamento desta matéria. (colaborou Rodolfo César).
Conteúdo retirado do Correio do Estado.