Apesar disso, criação de vagas segue em alta em Mato Grosso do Sul; números demonstram um cenário positivo de reposicionamento de profissionais no mercado
O número de demissões em Mato Grosso do Sul está em patamares altos desde o começo deste ano. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) foram 32.578 funcionários que pediram as contas no primeiro trimestre, 64,46% a mais que os 19.809 entre janeiro e março do ano passado.
Em números totais, o Estado teve 76.819 pessoas desligadas no trimestre, bem acima das 52.177 do mesmo período de 2021. Apesar de o número ser representativo, de acordo com os especialistas é um demonstrativo de recuperação no mercado de trabalho.
Com média de 25.606 desligamentos mensais nos três primeiros meses, caso ela persista durante todo o ano, o Estado pode chegar a dezembro de 2022 com 307.276 desligamentos, aumento de 33,59% no comparativo com 2021. No último ano, 230.002 trabalhadores perderam ou deixaram os empregos segundo levantamento feito pela reportagem do Correio do Estado com auxílio da LCA Consultores.
O economista Bruno Imaizumi, responsável pelo levantamento dos dados, afirma que essa é uma tendência de normalização do mercado de trabalho.
Ele afirma que muitas pessoas acabaram se recolocando no mercado de trabalho em ocupações com rendimentos menores por necessidade e pelo período de exceção causado pela pandemia.
“Agora, os efeitos da pandemia estão cada vez menores no mercado de trabalho, e tem muita gente que acaba se demitindo para ser admitido em outro lugar em profissões mais condizentes com suas qualificações”, analisa.
De acordo com o sistema do governo federal, Mato Grosso do Sul chegou à marca de 497.446 desligamentos feitos desde janeiro de 2020 até março deste ano. Isso corresponde a 18.423 desligamentos por mês.
O levantamento da LCA Consultores aponta que, desse total, 179.280 pessoas pediram para sair dos empregos que ocupavam no período, são 36,04% dos trabalhadores que trocaram ou deixaram a função em 27 meses.
No recorte mensal, também houve aumento no número de trabalhadores que fizeram pedido de desligamento no comparativo com março de 2021. Naquele mês, foram 6.884 demissões por iniciativa do empregado contra 11.660 no terceiro mês de 2022.
SALDO POSITIVO
Apesar do alto número de desligamentos, MS continua gerando empregos acima da média. Com mercado de trabalho dinâmico, pessoas trocam de posição constantemente.
No período combinado entre janeiro e março de 2022, em Mato Grosso do Sul o saldo positivo chega a 17.044 pessoas admitidas. Com isso, o Estado é umas das unidades da federação que mais criaram vagas neste ano.
Esse número reforça o defendido pela consultoria de que o mercado de trabalho se adapta a uma realidade com menores restrições.
Imaizumi ressalta que os estados do Centro-Oeste têm dinâmicas de trabalho diferentes de outras regiões.
“Verifiquei que em alguns estados do Norte e do Nordeste, onde a presença do trabalho remoto é menor por conta das características de emprego mesmo nas regiões e pela infraestrutura que os municípios de lá oferecem, esse levantamento não é recorde para esses meses, apesar da tendência de crescimento, diferentemente do que ocorre com os estados de Centro-Oeste, Sul e Sudeste”, analisa.
A explicação dada por especialistas é de que durante o período de exceção muitos trabalhadores precisaram aceitar empregos em ocupações distintas e algumas vezes com remunerações menores às que estavam acostumados.
Para o doutor em economia Michel Constantino, a reação do mercado de trabalho foi uma resposta aos anos anteriores e à mudança no comportamento do mercado formal, principalmente com a adoção do trabalho remoto.
“Tivemos alguns marcos importantes, como a mudança de regras trabalhistas, como o trabalho remoto, em home office, algumas pessoas que passaram a trabalhar exclusivamente nesse formato. Tudo isso reduziu custos e aumentou a possibilidade de novas contratações”, analisa.
Passada a dificuldade e com a baixa das restrições, muitos pedem demissão e retomam a profissão que tinham pré-pandemia.
O economista Marcio Coutinho acredita que o cenário no mercado de trabalho deve continuar positivo, mas as eleições devem impactar no ritmo dos empregos neste ano.
“Fazer projeções não é tarefa fácil, porém sou um otimista por natureza. Se você observar o histórico do saldo de empregos formais, de 2010 a 2015, o mesmo se apresenta em uma decrescente, quando em 2010 o saldo era de 28 mil e 2015 era negativo em 11,5 mil. A partir dessa data, observa-se um crescimento ao longo do tempo do saldo em questão, sendo afetado em 2020 em função da pandemia da Covid-19”.
“Em 2021, o saldo foi importante, apesar de os números estarem em uma crescente, penso que, neste ano de 2022, os saldos tendem a permanecer nos níveis atuais [estoque de emprego] em função de estarmos em um ano de eleições presidenciais”, finaliza.
NACIONAL
Iniciada em 2020, a metodologia do Novo Caged entrega mensalmente um panorama do mercado de trabalho formal no Brasil.
Segundo dados do último levantamento, o emprego sob as regras da Consolidação da Leis do Trabalho (CLT) no Brasil apresentou crescimento em março de 2022, registrando saldo de 136.189 postos de trabalho. Esse resultado decorreu de 1.953.071 admissões e de 1.816.882 desligamentos.
No acumulado de 2022, foi registrado saldo de 615.173 empregos, por causa de 5.820.897 admissões e de 5.205.724 desligamentos.
Dados trimestrais da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-Contínua) mostram que o mercado de trabalho vem se consolidando.
Em março de 2022, a população ocupada no País somava 96,5 milhões de pessoas, avançando 11,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.
A proporção de ocupados em relação à população total em idade ativa chegou a 55,8%. Esse resultado observado em março (55,9%) é o primeiro a superar os níveis de ocupação pré-pandemia, sendo o maior desde outubro de 2019 (56,1%). (Colaborou Súzan Benites)