Apesar de novos eleitos demonstrarem interesse em participar de grande debates públicos, o listamento burocrático se tornou um balde de água fria em alguns parlamentares
Os primeiros 100 dias da nova legislatura da Câmara Municipal de Campo Grande, iniciada em 1º de janeiro de 2025, sob a presidência do vereador Epaminondas Vicente Silva Neto, conhecido como Papy (PSDB), foram marcados por um esforço de consolidação política, busca por maior protagonismo legislativo e desafios inerentes à renovação de 50% dos vereadores.
Com 29 parlamentares, sendo 15 novatos, a 12ª legislatura teve que equilibrar a adaptação dos novos membros com a necessidade de entregar resultados à população. Abaixo, analiso os pontos positivos e negativos desse período, com uma avaliação específica do mandato de Papy como presidente.
Independência, diálogo e coesão
Papy foi eleito presidente por unanimidade, evidenciando sua habilidade de articulação política. A Mesa Diretora, composta por André Salineiro (PL) como 1º vice-presidente, Lívio Leite (União) como 2º vice-presidente, Neto Santos (Republicanos) como 3º vice-presidente, Carlão (PSB) como 1º secretário, Luiza Ribeiro (PT) como 2ª secretária e Ronilço Guerreiro (Podemos) como 3º secretário, forma uma coalizão diversa, reunindo diferentes partidos. Essa pluralidade garantiu estabilidade inicial, evitando tensões internas.
Papy destacou a independência do Legislativo, sem se posicionar contra a prefeita Adriane Lopes (PP). Em suas palavras, “independência não é oposição, mas valorizar o mandato de cada vereador”. Essa postura favoreceu um diálogo produtivo com o Executivo, agilizando a aprovação de projetos de interesse público, como ajustes fiscais e incentivos econômicos.
Sob sua liderança, a Câmara intensificou contatos com deputados federais e senadores para atrair emendas parlamentares. Um exemplo foi o encontro com a deputada Camila Jara em 10 de janeiro, quando vereadores apresentaram demandas em saúde, educação e causa animal, buscando vincular recursos diretamente aos parlamentares até sua execução. Essa estratégia reflete o empenho em ampliar o impacto legislativo nos investimentos da cidade.
Nos primeiros 100 dias, a Câmara aprovou iniciativas importantes, como a regulamentação do transporte por aplicativos, a criação de frentes parlamentares sobre inclusão e sustentabilidade, e a entrega da Medalha Tereza Cristina de Liderança no Agronegócio. Essas ações demonstram atenção a temas variados, da mobilidade urbana ao reconhecimento de setores econômicos.
Apesar da renovação de 50% dos vereadores, a integração dos 15 novatos foi bem-sucedida. Com a liderança de Papy e o apoio de veteranos como Carlão, a inexperiência foi minimizada, e as sessões ordinárias, iniciadas em 18 de fevereiro, transcorreram de forma organizada.
Falta de protagonismo em grandes debates
Apesar da promessa de maior protagonismo, os primeiros 100 dias da Câmara focaram mais em ajustes internos e articulações políticas do que em liderar discussões sobre questões críticas, como a crise na saúde e a infraestrutura viária. A falta de audiências públicas relevantes sobre esses temas alimentou críticas de que o Legislativo ainda não atende às expectativas dos cidadãos.
Embora tenha aprovado medidas como a Lei Complementar 938/24, que revisou gratificações de servidores, a tramitação de projetos complexos, como os de mobilidade urbana e orçamento, avançou lentamente. Isso se deve, em parte, à adaptação dos novos vereadores, mas também à dificuldade em priorizar pautas estratégicas.
A eleição de Papy e a formação da Mesa Diretora foram influenciadas por lideranças estaduais, como Reinaldo Azambuja e Eduardo Riedel. Embora isso tenha assegurado o resultado, levanta dúvidas sobre a autonomia da Câmara e sua possível vinculação a interesses políticos externos.
A comunicação com a população segue deficiente. Iniciativas como a captação de emendas e a criação de frentes parlamentares são positivas, mas pouco divulgadas, limitando a percepção do impacto legislativo. A ausência de ações de transparência ou canais diretos com os cidadãos continua sendo um ponto fraco.
Mesmo com uma coalizão ampla, o PP, partido de Adriane Lopes, inicialmente resistiu à candidatura de Papy, com nomes como Beto Avelar e Professor Riverton considerando concorrer. Embora superado, o episódio sugere que tensões partidárias podem ressurgir em votações mais controversas.
Sob novo comando
Papy, aos 37 anos e em seu terceiro mandato, assumiu a presidência com a vantagem de experiência prévia na Mesa Diretora (como 3º e 2º secretário) e um perfil conciliador. Sua eleição unânime, com apoio de todos os 29 vereadores, incluindo adversários iniciais como Beto Avelar, reflete sua capacidade de articulação e construção de consensos. Ele conseguiu formar uma Mesa Diretora diversa, com representantes de partidos como PT, PL e PSB, o que fortaleceu a estabilidade política inicial.
Entre os acertos, destaca-se sua postura de reforçar a independência do Legislativo sem romper com o Executivo, garantindo harmonia na relação com a prefeita Adriane Lopes. A iniciativa de buscar emendas federais também é promissora, pois pode ampliar os recursos para Campo Grande, especialmente em áreas críticas como saúde e educação. Papy demonstrou sensibilidade ao incluir uma mulher, Luiza Ribeiro, na Mesa Diretora, atendendo a demandas por representatividade, e sua juventude trouxe um tom de inovação, como na criação de frentes parlamentares modernas.
Por outro lado, Papy enfrenta críticas pela falta de ousadia em liderar grandes debates. A Câmara ainda não se posicionou de forma contundente sobre questões estruturais da cidade, como a lotação na Santa Casa ou os buracos nas ruas, o que limita sua visibilidade positiva. A dependência de articulações estaduais para sua eleição também gera desconfiança sobre sua autonomia, e a comunicação com a população precisa melhorar para traduzir as ações legislativas em benefícios percebidos.
Por fim, os 100 dias da nova Câmara Municipal de Campo Grande mostram um Legislativo em fase de consolidação, com avanços na organização interna e na busca por recursos, mas com desafios em assumir um papel mais ativo nos problemas da cidade.
Papy, como presidente, tem se destacado pela articulação política e pela manutenção da harmonia entre os poderes, mas precisa superar a percepção de que a Câmara é apenas coadjuvante. Para os próximos meses, será crucial que ele lidere pautas de impacto, fortaleça a transparência e engaje os cidadãos, consolidando sua gestão como um marco de renovação e eficiência na Capital Morena.