Requerimento foi iniciativa do Vereador Jean Ferreira (PT), porém os vereadores da base da Prefeita Adriane Lopes (PP) derrubaram o pedido
Nesta quinta-feira, os vereadores de Campo Grande protagonizaram um desserviço à população ao derrubar, por uma diferença mínima de votos (11 a 10), o primeiro requerimento da nova legislatura na Câmara Municipal. A decisão expõe uma postura lamentável de parte dos parlamentares, que, ao se alinharem cegamente à base da prefeita Adriane Lopes, parecem mais interessados em proteger interesses políticos do que em promover transparência e o bem-estar da população. É inadmissível que, diante de um tema tão crucial como a saúde sexual e reprodutiva, prevaleça a lógica mesquinha de bloquear requerimentos que cobram esclarecimentos da prefeitura.
O requerimento, proposto pelo vereador Jean Ferreira (PT), solicitava dados epidemiológicos fundamentais sobre saúde sexual e reprodutiva, além de informações sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) na Capital. A iniciativa era clara: entender a realidade da saúde em Campo Grande para subsidiar políticas públicas mais eficazes. O documento pedia o boletim epidemiológico, o número de testagens realizadas nos últimos doze meses, o total de pessoas diagnosticadas e os dados sobre pacientes em tratamento para essas infecções. Rejeitar essa demanda é, na prática, virar as costas para a população que depende do poder público para prevenir e tratar condições que afetam diretamente sua qualidade de vida.
Entre os votos contrários, destaca-se o do vereador Juari, que justificou sua posição com uma desculpa esfarrapada: segundo ele, seria necessário “orientar a fazer primeiro um requerimento” – uma declaração confusa que não explica por que optou por barrar o pedido do colega. Tal postura reflete não apenas despreparo, mas também uma falta de compromisso com a saúde pública, especialmente em um estado como Mato Grosso do Sul, onde os indicadores epidemiológicos ligados à saúde sexual são preocupantes.
Dados recentes do Ministério da Saúde mostram que, em Mato Grosso do Sul, a taxa de detecção de HIV entre jovens de 15 a 24 anos está entre as mais altas do Centro-Oeste, com 22,3 casos por 100 mil habitantes em 2022. Além disso, a sífilis, outra IST de notificação compulsória, apresentou uma incidência de 112,7 casos por 100 mil habitantes no estado em 2023, segundo o Boletim Epidemiológico de Sífilis do SUS. Entre gestantes, a situação é ainda mais alarmante: a sífilis congênita, transmitida de mãe para filho, registrou 20,8 casos por mil nascidos vivos no mesmo ano, um número que reflete a insuficiência de prevenção e tratamento precoce. Quanto às infecções por HPV, estima-se que mais de 30% dos adultos jovens no estado já tenham sido expostos ao vírus, o que eleva o risco de câncer de colo do útero e outras complicações.
Diante desse cenário, é revoltante que vereadores como Juari e os outros dez que votaram contra o requerimento escolham ignorar a gravidade da situação. Ao rejeitar a solicitação de dados, eles sabotam a possibilidade de traçar um diagnóstico preciso e de cobrar da prefeitura ações efetivas para enfrentar essa crise de saúde pública. Campo Grande merece representantes que coloquem a vida e a dignidade da população acima de jogos políticos. A atitude desses vereadores é um retrato triste de como a subserviência à base governista pode custar caro aos cidadãos, especialmente aos jovens e adultos que dependem de políticas públicas sérias para proteger sua saúde sexual e reprodutiva.
Base da gestão
Os vereadores da base da Prefeita, Beto Avelar (PP) e Otávio Trad (PSD), se manifestaram sobre o pedido do requerimento do companheiro de Casa. Avelar afirmou que a casa de Leis tem debates mais ‘importantes’ e que ele mesmo irá se comprometer em conseguir esses dados com a Secretaria da Saúde da Capital.
Já o Vereador Otávio Trad (PSD), informou que entrou em contato com a Secretária da Saúde da Capital, a Dra. Rosana Leite, e confirmou que trará respostas para o parlamentar e a Casa na próxima sessão da Câmara Municipal que será realizada na terça-feira (25).
Como votaram os vereadores:
Votaram a favor do requerimento:
Jean, Dr. Lívio (União), Fábio Rocha (União), Victor Rocha (PSDB), Flávio Cabo Almi (PSDB), Júnior Coringa (MDB), Landmark (PT), Luiza Ribeiro (PT), Marquinhos Trad (PDT) e Ronilço Guerreiro (Podemos).
Votaram contra e para derrubada:
André Salineiro (PL), Beto Avelar (PP), Clodoilson Pires (Podemos), Maicon Nogueira (PP), Otávio Trad (PSD), Professor Juari (PSDB), Professor Riverton (PP), Rafael Tavares (PL), Veterinário Francisco (União), Leinha (Avante) e Wilson Lands (Avante).