Em meio a um cenário de incertezas, projetos estratégicos emergem como alternativas para direcionar o Estado rumo a um futuro sustentável
Sob o calor intenso e um céu tingido pela fuligem, a chuva, tão aguardada, insiste em não cair. O vento, que antes trazia alívio, agora carrega a fumaça das queimadas que devastam o Pantanal. As temperaturas batem recordes a cada dia, enquanto os rios secam e a vegetação se transforma em cinzas. Em meio à crise climática, falar em desenvolvimento sustentável soa como um eco distante para quem vive em Mato Grosso do Sul.
Embora a esperança pareça minguar sob as ondas de calor e os incêndios que avançam de forma desenfreada, ainda assim, há quem tente desviar o curso de um destino que parece inevitável. Criado pela ONU (Organização das Nações Unidas), o conceito de desenvolvimento sustentável, propõe um modelo de progresso econômico, social e político que busca equilibrar o avanço com a preservação do meio ambiente.
Na última reportagem especial pelos 47 anos de Mato Grosso do Sul, o Jornal Midiamax explora o cenário em que projetos estratégicos como as rotas da celulose, Rota a Bioceânica, carbono neutro, ativação da nova Ferroeste, assim como o fomento à agricultura familiar, surgem como alternativas viáveis para impulsionar o Estado rumo a um futuro mais alinhado aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU e a preservação ambiental.
Equilíbrio ambiental
Em 47 anos de existência, equilibrar o crescimento econômico e a preservação ambiental rumo a um desenvolvimento sustentável é o maior dilema que o Mato Grosso do Sul precisa resolver.
Para o professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e coordenador do Observatório de Cooperativismo e Agricultura Familiar, Alessandro Arruda, todos esses projetos buscam o desenvolvimento social e econômico, mas é inegável seus impactos ambientais.
“O desenvolvimento econômico e social é fundamental para alcançar a sustentabilidade. Estamos lidando com os pilares da sustentabilidade. Agora é o momento de obtermos o máximo de desenvolvimento econômico com estes projetos, mas com o menor impacto ambiental possível”, afirma.
Rotas de celulose
A Rota da Celulose é um extenso sistema rodoviário que atravessa nove municípios do estado. Na rota estão, Campo Grande, Ribas do Rio Pardo, Santa Rita do Pardo, Bataguassu, Água Clara, Três Lagoas, Nova Alvorada do Sul, Nova Andradina e Anaurilândia.
Mato Grosso do Sul se destaca nacionalmente na produção de celulose. Conforme dados do IBÁ (Indústria Brasileira de Árvores), em 2023, o Brasil registrou um aumento de 280 mil hectares de plantio de eucalipto, dos quais 220 mil estão localizados no território sul-mato-grossense.
O projeto abrange os seguintes trechos: MS-040, que conecta Campo Grande a Santa Rita do Pardo (226,3 km); MS-338, ligando Santa Rita do Pardo ao entroncamento com a MS-395 (60,1 km); e MS-395, que percorre de Bataguassu ao entroncamento com a MS-338 (7,7 km). Além disso, a rota inclui a BR-262, que liga Campo Grande a Três Lagoas (328,2 km), e a BR-267, que segue de Bataguassu a Nova Alvorada do Sul (248,1 km).
Conforme o pacote de obras, estão previstos a duplicação de 114,5 km de rodovias, a criação de 457 km de acostamentos, 251 km de terceiras faixas, 12 km de vias marginais e 82 dispositivos de segurança. Também estão previstos serviços de apoio aos usuários, com 50 veículos operacionais, que incluem ambulâncias, guinchos, veículos para combate a incêndios, desobstrução de pistas e inspeção para controle do tráfego.
Capital da celulose
O investimento na produção de celulose em Mato Grosso do Sul se justifica pela vasta área destinada ao cultivo de eucalipto, matéria prima da celulose. Hoje, o Estado conta com 1,4 milhão de hectares dedicados ao plantio de eucaliptos, que, ao contrário das árvores nativas, são cultivados especificamente para fins comerciais.
Em 2022, a área total de cultivo de eucalipto no Estado cresceu de 1.045.765 para 1.181.536 hectares, assim, 99,5% da área de silvicultura em MS está dominada por essa cultura. Em meio a isso, Três Lagoas – conhecida como Capital da celulose – se destaca como o maior produtor mundial, abrigando duas das maiores fábricas do setor no planeta.
Contudo, o mesmo fogo que devastou a vegetação nativa e desabrigou centenas de animais no Pantanal, também atingiu as fazendas de eucalipto. Em Água Clara, os incêndios destruíram 11 mil hectares de plantação.
Na visão do professor Alessandro Arruda, as rotas de celulose consistem em um projeto complexo, uma vez que envolve uma cadeia produtiva extensa. O impacto ambiental se estende além das áreas de plantio dos insumos utilizados na fabricação de celulose; ele também se faz sentir nas instalações de produção e nas rotas de transporte desses produtos.
“O impacto não se limita apenas à plantação, mas se estende por todo o processo, desde a fabricação até a distribuição dos resultados. Precisamos coletar dados para monitorar esses impactos e, assim, avaliar, como em uma balança, se os benefícios do desenvolvimento econômico e social compensam o impacto no meio ambiente”, ressalta.
Rota Bioceânica
Pilar do desenvolvimento econômico de Mato Grosso do Sul, a Rota Bioceânica representa um avanço significativo na logística das exportações e importações brasileiras, encurtando distâncias e facilitando o acesso aos mercados promissores na Ásia, Oceania e na Costa Oeste dos Estados Unidos. Mais do que uma via de transporte, a rota promete integrar a América do Sul, transformando MS em um hub logístico e um centro de distribuição estratégico de mercadorias.
Localizado no coração dessa rota, Mato Grosso do Sul se posiciona como um ponto crucial para o comércio internacional. A partir da cidade de Porto Murtinho, a Rota Bioceânica atravessará o território paraguaio, passando por Carmelo Peralta, Mariscal Estigarribia e Pozo.
Na sequência, a rota percorrerá a Argentina, cruzando cidades como Missão La Paz, Tartagal, Jujuy e Salta, antes de entrar no Chile pelo Passo de Jama, até os portos de Antofagasta, Mejillones e Iquique.
Assim como as ferrovias, a Rota Bioceânica é um instrumento fundamental para otimizar os canais de distribuição, reduzindo os custos de transferência e transporte dos produtos que passam por essas vias, mas também não se exime dos imapctos ambientais.
“É importante ressaltar que o impacto ambiental será, em grande parte, concentrado nessa malha de transporte”, afirma.
Obras seguem em ritmos lentos
Atualmente as obras se concentram na conclusão da ponte sobre o Rio Paraguai, entre Porto Murtinho (Brasil) e Carmelo Peralta (Paraguai), bem como da pavimentação de trecho no lado paraguaio. A previsão é para 2026.
O trecho entre as cidades de Mariscal Estigarríbia e Poso Hondo deve ficar pronto em final de 2026. Já quanto às obras de acesso à ponte de Porto Murtinho, obra que integra o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) devem ter início em breve.
“Os 248 km da BR-267 entre Bataguassu e Nova Alvorada, que integram a Rota, vão para concessão dentro do conjunto de rodovias que compõem a rota da celulose. Serão licitadas pelo Estado”, destacou o secretário Jaime Verruck.
Vale lembrar que, em 2023, viagem de ‘estreia’ da Rota Bioceânica terminou em fiasco após o primeiro caminhão de carga, que percorreria o trajeto, ser barrado antes mesmo de sair de Mato Grosso do Sul. Após quatro dias parado na alfândega da Receita Federal de Ponta Porã, a carga frigorífica retornou à Capital, devido a falta de documentação.
Avanço da hidrovia Paraguai-Paraná acelera desmatamento
Embora o progresso seja bem-vindo, alguns projetos, como a expansão da Hidrovia Paraguai-Paraná, podem causar danos irreversíveis, até mesmo decretar o fim do Pantanal. Esse é o alerta dos cientistas em artigo publicado na revista Science of The Total Environment. O projeto, criado na década de 80, e que ressurgiu em 2023, previa grandes intervenções no rio Paraguai e Paraná para possibilitar a construção de uma via industrial com tráfego 24 horas por dia nos 365 dias do ano.
O estudo revela que o ressurgimento desse projeto de navegação ameaça a integridade de todo o bioma. Atualmente, a hidrovia tem operação concentrada na Argentina, mas há estudos para a operação em território sul-mato-grossense. O projeto prevê o aprofundamento de 700 km do canal natural do Rio Paraguai em seu trecho superior. No entanto, isso resultaria em níveis mais baixos de água e na redução do ecossistema da planície de inundação.
Nesse cenário, o Rio Paraguai que flui através do Pantanal é a última grande paisagem fluvial da América do Sul que ainda possui uma estrutura quase natural. Por isso, esse aprofundamento afetaria regiões de alto valor ecológico. Isso nclui parques, terras indígenas e outras áreas protegidas, reconhecidas como patrimônios mundiais.
“A sua existência depende do regime natural de fluxo. Isso proporciona um padrão natural de cheias e secas numa vasta área”, defendem os cientistas no artigo.
Vale lembrar que o complexo hidroviário compreende a cidade de Cáceres, no Mato Grosso, até Nueva Palmira, no Uruguai, totalizando cerca de 3,4 mil quilômetros. A via fluvial percorre cinco países: Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, passando pelas cidades de Corumbá e Assunção.
Ferrovias surgem como alternativas ‘sustentáveis’ à hidrovia
O principal argumento entre os que defendem a hidrovia está no maior progresso para Mato Grosso do Sul, que possibilitaria acordos comerciais e fomento da economia, mas seria a hidrovia a única solução? Para evitar a extinção do bioma, cientistas defendem o uso de meios alternativos para o transporte das commodities produzido em cada país, como as ferrovias.
Quanto ao transporte de grãos, combustíveis e químicos para a agricultura, Alcides Faria, presidente da ONG Ecoa (Ecologia em Ação), ressalta que uma alternativa mais ‘sustentável’ seriam as ferrovias.
Nesse contexto, destacam-se dois projetos importantes: a criação da Nova Ferroeste e a reativação da Malha Oeste. A Nova Ferroeste visa melhorar a logística de transporte de cargas, especialmente para a indústria de celulose. Já a reativação da Malha Oeste busca revitalizar a infraestrutura ferroviária da região. O projeto prevê uma conexão mais eficiente entre os polos produtivos e os mercados consumidores. Juntos, esses projetos têm o potencial de impulsionar ainda mais o desenvolvimento econômico do Estado.
Impactos positivos
Para Alessandro Arruda, existe um “trade-off” entre produção e meio ambiente, ou seja, sempre que conseguimos aumentar a produção e gerar mais renda utilizando a mesma área, estamos, de fato, construindo um desenvolvimento mais sustentável.
“A troca das rodovias pelas ferrovias no transporte desses produtos representa um aumento indiscutível na eficiência. Com a ferrovia, é possível transportar uma quantidade maior de carga, além de reduzir o desgaste de pneus. Isso também reduz o consumo de combustível e, o número de vidas perdidas em acidentes rodoviários”, afirma o professor.
Produzir mais, transportar com maior rapidez e a um custo menor são indicadores claros de desenvolvimento econômico. No entanto, Arruda ressalta que é essencial quantificar esses dados para avaliar os impactos.
“Precisamos entender qual a diferença no tempo de entrega das mercadorias e quanto isso representa em economia tanto para a iniciativa privada quanto para os cofres públicos. Além disso, é crucial avaliar como essa economia se reverte em benefícios sociais. Há um impacto real na renda per capita da população nessas regiões? Se os benefícios econômicos não se traduzem em avanços sociais, então o custo ambiental envolvido não está sendo aprimorado”.
Nova Ferroeste
Com uma extensão de 1.567 km, a Nova Ferroeste visa conectar, por meio de trilhos, os estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina. Também conhecida como Corredor Oeste de Exportação, a malha ferroviária estabelecerá uma ligação entre Maracaju e o Porto de Paranaguá. Em Cascavel, há uma interconexão com dois ramais: um rumo a Chapecó, em Santa Catarina, e outro para Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira do Brasil com Paraguai e Argentina. Os novos trilhos atravessam 66 municípios nos três estados.
Malha Oeste
Já a ferrovia Malha Oeste soma mais de 1.600 quilômetros, ligando Corumbá a Mairinque (SP). Atualmente, o projeto, orçado em R$ 18 milhões, encontra-se em fase de relicitação. As obras incluem a ampliação e construção de pátios de cruzamentos, melhorias na sinalização e minimização de conflitos urbanos, por meio da implementação de 21 intervenções integradas simples e 43 completas. Além disso, está prevista a construção de um contorno ferroviário e modernização da frota.
“Um exemplo é a ferrovia que percorre a parte alta da bacia do Pantanal, conhecida como Ferronorte. A empresa desenvolve projeto para que os trilhos avancem em Mato Grosso para o Norte, até Lucas do Rio Verde. Recentemente tracei uma comparação entre ela e a hidrovia. Minha análise resultou totalmente favorável a Ferronorte”, explica Alcides Faria.
MS Carbono Neutro
Embora seja uma das principais forças motrizes do desenvolvimento econômico, o agronegócio gera impactos ambientais significativos aos biomas Pantanal e Cerrado. Para minimizar esses impactos, o Governo do Estado assumiu o compromisso de zerar as emissões de carbono até 2030.
O projeto “MS Carbono Neutro” tem como meta estabelecer uma base metodológica para promover uma economia de baixo carbono em Mato Grosso do Sul. O objetivo é desenvolver e adaptar tecnologias externas para a redução e mitigação das emissões de gases de efeito estufa.
Para o climatologista José Marengo, isso não é viável. Embora reconheça a importância de reduzir a emissão de gases de efeito estufa, ele ressalta que isso deveria ter ocorrido há dez anos.
“Com a tecnologia que temos agora, zerar os gases é impossível, porque temos que ter tecnologias para absorver o CO2 que não temos. Reduzir as emissões é importante, mas isso não vai alterar o aquecimento global, talvez, reduzir um pouco. Tentar chegar a não passar de 1,5°C, por exemplo, é realmente muito difícil”, afirma o cientista ambiental.
Para ilustrar o quão atrasados estamos em relação à urgência dessa questão, o Brasil se comprometeu a reduzir em 53% as emissões de gases de efeito estufa até 2030. Por sua vez, o governo de Mato Grosso do Sul se comprometeu a neutralizar 100% das emissões até o mesmo ano. Mesmo que essas metas sejam alcançadas, provavelmente irão apenas minimizar os efeitos extremos do aquecimento, explica Marengo.
Investimento em agricultura familiar abre caminhos para soberania alimentar
Quando se fala em desenvolvimento sustentável, a agricultura familiar desempenha um papel crucial na segurança alimentar e nutricional da população brasileira, sendo responsável por 70% dos alimentos consumidos no país. Além disso, exerce um impacto significativo na luta global contra a fome, que afeta mais de 800 milhões de pessoas no mundo, conforme a ONU.
Mato Grosso do Sul ocupa a 7ª posição entre os estados com maior produção agropecuária no Brasil. Atualmente, o Estado conta com quase 80 mil famílias de pequenos agricultores, o dobro em relação a 1990, quando eram 38 mil. Conforme o último Censo Agropecuário, os principais produtos cultivados pela agricultura familiar em MS são mandioca (77%), café (68%) e feijão (56%).
Além disso, o Censo Agropecuário, revelou que o Estado possui 71.164 propriedades economicamente ativas. Desse total, 43.223 são de famílias que integram a agricultura familiar, o que representa 61% da produção.
Da terra à mesa
Apesar da relevância da agricultura familiar, 85% dos produtos comercializados na Ceasa-MS (Central de Abastecimento) são provenientes de estados vizinhos. Para Alessandro Arruda, fomentar a agricultura familiar é um ponto fundamental para o desenvolvimento sustentável. O professor destaca que setor pode oferecer uma variedade de produtos e sabores mais ricos do que a produção em larga escala.
“A agricultura familiar fixa o homem no campo, assim como a família e os filhos no local onde esses pais residem. A utilização da terra pelos pequenos produtores gera uma diversidade de alimentos. A agricultura em larga escala, focada na monocultura, não consegue prover isso”, afirma Arruda.
O professor acrescenta que a chave para o progresso está na tecnologia e na inovação. Para ele, isso gera produtividade e permite produzir mais na mesma área de cultivo. “A Embrapa tem mostrado isso há 50 anos, com tecnologias que já triplicaram a produção em algumas regiões”, diz.
Na visão do especialista, essa abordagem também diminui a necessidade de expandir as áreas agrícolas. Embora essa demanda ainda exista, novas tecnologias continuarão a surgir, permitindo um aproveitamento máximo de áreas já cultivadas.
Nesse contexto de inovação tecnológica, é essencial incluir uma agricultura familiar. “Este é o momento para que pequenos produtores também sejam incentivados a adotar tecnologias que maximizem o uso do solo. Um aumento na tecnologia de produção tende a aumentar significativamente a oferta de produtos”, conclui.
Mercado Solidário
Pensando nisso, Alessandro Arruda, criou o ‘Mercado Solidário’, aplicativo que viabiliza a comercialização de produtos da agricultura familiar. A ideia surgiu após ele coordenar o projeto ‘Territórios da Cidadania’. Durante visitas a assentamentos e regiões rurais ele entendeu que os principais problemas dos agricultores eram a comercialização, organização e o financiamento da produção agrícola. Assim, junto a uma equipe formada por acadêmicos, professores e técnicos, criou o ‘Mercado Solidário’.
“Nesse aplicativo, o produtor não precisa sair de seu local de produção, seja sítio ou horta, para negociar seus produtos. Disponibilizamos um meio digital para auxiliar na comercialização dos produtos da agricultura familiar e da economia solidária”, explica.
Com os produtos devidamente cadastrados pelos agricultores, o aplicativo promove a compatibilização da demanda por alimentos, facilitando a negociação de compra e venda. Inicialmente, o Mercado Solidário contemplaria apenas instituições públicas, como escolas que adquirem produtos para merenda escolar. No entanto, durante os testes, produtores relataram que também queriam incluir compradores privados.
Promessa de ‘progresso’ abre caminhos para destruição
Com extensão total de 165.840 km, com porções no Brasil de 151.939 km (91,6%), Bolívia 10.924 km (6,6%) e Paraguai 2.980 km (1,8%), o Pantanal é a maior área úmida contínua de água doce na Terra. Em julho deste ano, a ONG Ecoa alertou que as diversas obras que prometem trazer ‘progresso e desenvolvimento’, como a abertura de estradas em rodovias da região, podem, na verdade, estar acelerando a destruição do Pantanal.
Além dos impactos ambientais diretos, as obras vão na contramão da preservação ambiental, uma vez que estimulam a chegada de novas empresas, que, segundo a entidade, estariam mais interessadas em maximizar seus lucros do que preservar a biodiversidade e a cultura pantaneira.
Os dados corroboram a afirmação do ambientalista. Conforme o Relatório Anual do Desmatamento do MapBiomas que o Pantanal registrou a maior taxa de desmatamento do quadriênio em 2022. Em todo o período (2019-2022), foram 101 mil hectares desmatados, o que equivale a quase o tamanho da cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Qual o futuro de Mato Grosso do Sul?
Para o ambientalista Alcides Faria, o ponto de partida para o desenvolvimento sustentável de Mato Grosso do Sul está na valorização de suas qualidades ambientais naturais. O Estado tem o privilégio por compartilhar duas grandes bacias hidrográficas: a do Paraná e a do Paraguai, com sub-bacias que cortam o território de maneira estratégica. Quando trata-se de recursos hídricos, além dos rios, o subsolo abriga lençóis freáticos de fácil acesso e o Aquífero Guarani. Segundo Alcides, isso representa um ativo essencial em tempos de mudanças climáticas.
Outro destaque ambiental está na diversidade de biomas, que inclui florestas do tipo Mata Atlântica ao longo do Rio Paraná e em algumas áreas no interior do Estado, além do Cerrado, Pantanal e uma pequena porção do Chaco.
“A ocupação desses biomas, ao longo do tempo, trouxe diferentes usos para o solo. Suas características particulares permitiram o avanço da agricultura industrial em determinadas regiões, com alta aplicação de tecnologia”, explica o biólogo.
No entanto, Alcides ressalta que o mesmo progresso não se reflete nas áreas destinadas à pecuária.
“No caso das pastagens, por exemplo, são mais de 4,3 milhões de hectares degradados, um dado alarmante. É necessário investir na recuperação dessas áreas, cuidando também das águas superficiais e subterrâneas, com a restauração das microbacias hidrográficas, das matas ciliares e das zonas de recarga de aquíferos”, afirma.
‘É preciso valorizar nossa localização geográfica’
Medidas que visem a sustentabilidade são cada vez mais urgentes, dado o cenário de mudanças climáticas e a frequência crescente de eventos extremos. Segundo Alcides, para que Mato Grosso do Sul caminhe rumo a um futuro sustentável, garantindo trabalho e renda à população, é preciso valorizar sua localização geográfica e pensar mais nos mercados internos, como São Paulo, e menos na China.
“Somos vizinhos do maior mercado consumidor do Brasil e deveríamos nos concentrar em alcançá-lo com a produção de alimentos específicos, como frutas. Sem o uso de agrotóxicos, esse mercado se amplia ainda mais, inclusive no cenário internacional”, conclui o presidente da Ecoa.
Conteúdo retirado do Midia Max.