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Atenção básica de qualidade ajuda a reduzir filas de cirurgias e superlotação em hospitais

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Pronto Socorro da Santa Casa de Campo Grande está constantemente cheio; atenção fica voltada mais para a urgência e emergência do que para atendimento de cirurgias eletivas, gargalo da saúde - Foto: Paulo Ribas / Correio do Estado
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Especialista diz que Capital deve promover campanhas de conscientização e elevar o foco de gestão para o atendimento nas UBS

O caminho para resolver as longas filas para realização de cirurgias eletivas e a superlotação de hospitais em Campo Grande passa por um trabalho preventivo e de excelência no atendimento à população da Capital nas unidades básicas da saúde (UBS), segundo avaliação do gerente administrativo do Hospital Universitário Maria Parecida Pedrossian (Humap), Carlos Alberto Coimbra.

Em Campo Grande, existem duas unidades principais que provem o atendimento básico de saúde, a Unidade de Saúde da Família (USF), a UBS e as equipes multidisciplinares do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Primária à Saúde (NASF-AP), que trabalham dentro das USF.

Mesmo com o município tendo mais unidades em cargo da atenção primária à saúde, de acordo com Coimbra, é possível observar que a maioria dos pacientes que chegam para ser atendidos nos setores de média e alta complexidade poderiam receber tratamento eficaz nas unidades municipais de atenção básica, sem ter a necessidade de internação em um hospital.

“Eu acho que o município precisa olhar para a atenção básica, porque, quando chegam os pacientes que deveriam ser atendidos para média e alta complexidade, 80% desses pacientes já poderiam ser tratados se a gente tivesse uma atenção básica que funcionasse, um médico da família que funcionasse”, declarou Coimbra.

A fala do doutor em Desenvolvimento Local também dá luz a um problema de transferência de responsabilidade na área da saúde, que deve atender dentro do seu parâmetro de serviços e especialidades.

“A saúde ela é tripartite, porque ela é dividida entre o governo federal, estadual e municipal. Às vezes, isso se confunde ou se transfere responsabilidades entre um e outro. O município deveria focar realmente na atenção básica, o Estado ficar na média e na alta complexidade, que são os hospitais, os grandes centros de atendimento, e o governo federal nas ações e estratégias de saúde pública. Mas às vezes isso não acontece”, declarou o gestor público.

De acordo com carteira de serviços da Atenção Primária à Saúde (APS) de Campo Grande, da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), ela é a porta de entrada do sistema do setor, em que é constituída por uma equipe multidisciplinar que cobre toda a população, integrando e coordenando o cuidado, atendendo as necessidades de saúde das pessoas em seu território de atuação.

As UBS e as USFs devem desempenhar o papel central para garantir o acesso a uma atenção à saúde de qualidade para a população, pois representam o contato preferencial dos cidadãos com os serviços básicos de saúde.

Porém, o Correio do Estado acompanha nos últimos anos a falta de condições básicas nos atendimentos nas USFs, por exemplo, quando várias UBS enfrentaram desabastecimento de dipirona, bromoprida e alguns analgésicos de forma recorrente.
Em reportagem do Correio do Estado realizada no ano passado, a Sesau informou que pelo menos 15% dos medicamentos ofertados na rede de atendimento da Capital estavam em falta nos postos de saúde.

Conforme a secretaria, existem algumas faltas pontuais, “por conta da indisponibilidade do produto ou da matéria-prima no mercado e da estagnação no processo de compra, em razão de pedidos de realinhamento de preço”.

Segundo a alegação da Sesau, “o abastecimento de medicamentos no município tem sido regular desde 2017, a partir da reorganização dos processos de compras. No ano anterior, 2016, o estoque de medicamentos estava abaixo da chamada reserva técnica, com menos de 20% dos itens disponíveis”, informou em nota, na época.

Em abril deste ano, uma audiência pública na Câmara Municipal de Campo Grande foi realizada para debater a falta de medicamentos nos postos de saúde.

Tendo em vista a necessidade do atendimento de qualidade na atenção primária, Coimbra entende que a gestão municipal deve se propor a realizar levantamentos mais amplos para entender a dimensão do seu atendimento à população campo-grandense.

“A gestão deve saber realmente quem são os seus clientes em Campo Grande. Hoje, existem dados colocados que Campo Grande tem 1 milhão e 700 mil cartões SUS [Sistema Único de Saúde]. Mas onde estão essas pessoas? Quem são essas pessoas? Acho que o poder público precisa conhecer. Como são esses idosos? Existem diferenças muito grandes de um idoso hoje de 65 anos, de uma classe social A, e um idoso de uma classe social C, I e D. Para saber se essa pessoa cuidou realmente da sua vida ali para chegar na velhice, isso tudo o município precisa entender para que possa promover ações realmente de saúde pública para esse tipo de população”, pontuou Coimbra.

Sobre a falta de medicamentos, atualmente a Sesau informou que conseguiu resolver a falta de dipirona.

SUPERLOTAÇÃO

A falta de trabalho de conscientização e de campanhas, que fazem parte da atenção básica da saúde, de orientações para a população também gera consequências na superlotação de hospitais em Campo Grande.

De acordo com o gestor do Humap, hospitais como a Santa Casa e o Universitário têm o seu atendimento direcionada para urgência e emergência, por conta de acidentes, principalmente os de trânsito, mas essas unidades de saúde deveriam ter o seu foco de atendimento mais amplo nas cirurgias eletivas.

“Hospitais como Santa Casa e Hospital Universitário, e não diferente do Hospital Regional, 75 a 85% dos atendimentos são direcionados à urgência e emergência, quando deveria ser o inverso essa pirâmide. Era para os hospitais atenderem de 25% a 30% urgência e emergência e de 80% a 75% cirurgias eletivas, o que impactaria realmente na redução das filas por esse tipo de atendimento. Quando a gente pega um hospital como a Santa Casa, hoje, a sua urgência e emergência é quase na sua totalidade o atendimento de acidentes de trânsito”, declarou.

A gestão municipal de saúde poderia ajudar na mudança desse panorama na efetivação de campanhas, como a da Lei Seca.
“Não temos visto uma campanha de combate, a gente percebe que não há efetividade de Lei Seca no nosso município. Com campanhas efetivas, poderia gerar impacto na redução de atendimentos, porque os casos de urgência e emergência dificultam muito o atendimento das cirurgias eletivas”, pontuou Coimbra.

FILAS NO SUS

Os acidentes geram impacto na longa fila de espera para a realização de cirurgias ortopédicas em Campo Grande.

Com filas que chegam a 13.981 pessoas na espera por exames e cirurgias de ortopedia no SUS, podendo deixar pacientes por até 16 anos à espera de uma primeira consulta nessa especialidade, de acordo com os dados do Sistema de Regulação (Sisreg), desenvolvida pelo DataSUS.

Apenas dois estabelecimentos de saúde em Campo Grande são autorizados e habilitados para realizar esse tipo de cirurgia ortopédica no Estado pelo SUS, a Santa Casa de Campo Grande e o Hospital Universitário. 

Recentemente, por conta da alta demanda, o Hospital Adventista do Pênfigo de Campo Grande também foi autorizado a realizar esse procedimento.

De acordo com os dados do DataSUS, de 2014 até 2023, a Santa Casa de Campo Grande e o Hospital Universitário realizaram 542 cirurgias de procedimentos ortopédicos de alta complexidade.

Entre esses anos informados, a Santa Casa fez apenas uma cirurgia ortopédica em 2014 e duas em 2017 e 2018. Já o Hospital Universitário executou 30 cirurgias no período pandêmico (de 2020 a 2022) e 16 no ano passado. 

No total de procedimentos ortopédicos nos hospitais de MS nesse período de 10 anos, o Hospital Regional fez 199 cirurgias e a Santa Casa realizou 343 procedimentos.

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