Em 200 anos, o Senado Federal nunca foi presidido por uma mulher. Candidata ao mais alto posto de comando da Casa, Soraya Thronicke (Podemos-MS) afirmou, em entrevista, que “passou da hora” de essa realidade mudar
“Aquele Congresso Nacional está atrasado, não é o Brasil. Eu tenho certeza que os brasileiros não têm problema nenhum com mulheres ali no centro das mesas”, disse a senadora em entrevista.
Soraya Thronicke teve seu nome lançado como candidata à presidência do Senado durante o evento “Podemos Mulher”, realizado pelo seu partido em São Paulo, no dia 9 de março. A senadora contou que recebeu a indicação com surpresa, mas ressaltou que sabe que seu nome ganhou força para disputas desse calibre, sobretudo após a campanha para a Presidência da República em 2022.
“A campanha de 2022 cacifou não só a mim, mas todo o meu entorno, toda a minha equipe, todas as pessoas que estiveram comigo, e ela hoje traz um peso diferente, principalmente no momento em que a gente precisa ter coragem, e isso todo mundo viu que eu tenho, que eu não me curvo, e que dentro de um nível democrático, de um nível republicano, de um nível educado, eu consigo me virar de uma forma que a gente marca uma presença.”
O Senado Federal conta hoje com a maior bancada feminina da sua história. Thronicke, vice-líder da bancada, garantiu que a maioria do grupo apoia a candidatura de uma mulher — neste momento, além de Soraya Thronicke, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) tem candidatura confirmada.
Apesar de ambos os nomes lançados, Soraya garantiu que, por consenso, uma das duas abrirá mão de concorrer à presidência para dar apoio a uma única candidatura.
“Nós hoje estamos unidas por um propósito maior: quem tiver mais condições, quem despontar na frente vai, e os demais estarão dentro do grupo. Então não tenho apego. Se for Eliziane, ótimo, se for outra, ótimo, e se for um homem também, ótimo, desde que nós tenhamos a paridade na mesa, coisa que nunca aconteceu, coisa que nunca aconteceu no Senado.”
No último dia 10, Soraya, Eliziane e a líder da bancada feminina, Leila Barros (PDT-DF), se encontraram para discutir a eleição para a presidência do Senado, no ano que vem, com o objetivo de aumentar o protagonismo feminino na Casa. O encontro foi bem avaliado pela senadora, dizendo que saíram bastante otimistas e que ficou entendido que a união entre as partes era necessária.
Em sua atuação na vida pública, Soraya tem se destacado por lutar por mais espaços para as mulheres, defendendo a paridade de gênero. Foi assim na disputa para a Presidência da República e não tem sido diferente em sua atuação no Senado.
“Quem trabalha com mulheres, quem já aprendeu a trabalhar com mulheres, entendeu a importância de termos uma paridade. Apesar de sermos a maioria aqui no nosso país, nós não desejamos estar além, estar a mais”, disse.
“Por mais que pareça ridículo — a gente está em 2024 —, nós estamos falando de homens que não gostam de ver mulheres assim, em uma Mesa Diretora do Senado Federal”, acrescentou.
Ao levar o assunto a cabo, a senadora defende que as poucas parlamentares têm a obrigação de “abrir as portas e abrir a cabeça da população brasileira para que deixe de lado esse tipo de preconceito”.
Ela destaca ainda que, apesar da importância e do peso do Brasil na América Latina, o país está atrás de México, Nicarágua, Bolívia, Argentina e Cuba quando o assunto é paridade de gênero na política.
“Não queremos nada mais do que o nosso tamanho. O nosso tamanho dá mais de 50% da população. A gente só está pedindo 50%”, diz.
Sobre as disparidades, Soraya relembrou um caso que aconteceu na Casa recentemente, mas que, devido às discussões sobre o Projeto de Lei (PL) 1904/2024, que equipara o aborto em uma gestação acima de 22 semanas ao homicídio, não teve a devida repercussão.
“A reforma política chegou ao Senado. E quando ela chegou ao Senado, foi designado o relator, o senador Marcelo Castro [MDB-PI]. Quando nós fomos analisar o texto, ele havia mudado o texto, retirando o direito nosso conquistado de 30% de candidaturas femininas.”
Além disso, segundo a senadora, o texto previa que os 5% do Fundo Partidário reservados para a cota feminina fossem repartidos com outras minorias, como negros, quilombolas e indígenas.
A sete meses das eleições, Soraya revela que o maior desafio a ser enfrentado é o orçamento, uma vez que, segundo ela, não há critério de distribuição.
“Se o presidente do Senado quer colocar tudo no estado dele, ele coloca”, sublinha.
Com a candidatura já lançada, a senadora contou, inclusive, que foi questionada por parte da imprensa sobre se não era “cedo demais”.
“Você não perguntou para o fulano se era muito cedo? A pessoa que nem se lançou, nem foi lançada pelo partido, já é pré-candidata, candidata e já ganhou. Aí quando o meu partido me lança, perguntam para mim: ‘Mas não é cedo?’. […] Se tá todo mundo se mexendo nos bastidores, a gente precisa se mexer às claras. Não tem nada de cedo, não”, contou, retrucando as sondagens.