Campo Grande tem a pior taxa de mortalidade por suicídios a cada 100 mil habitantes entre as capitais do país, conforme levantamento do ICS (Instituto Cidades Sustentáveis).
O índice é de 9,7% o maior do Brasil a frente de grandes cidades como o Rio de Janeiro (5,4%) e São Paulo, quem tem a menor taxa (1,5%). O levantamento leva em conta os dados fornecidos pelo DataSUS.
Luto
A lembrança do irmão Vanderci da Silva, de 36 anos, ainda é acompanhada da voz embargada e dos olhos cheios de lágrimas, para auxiliar de serviços gerais Letícia de Almeida.
Há três anos ela convive com a dor do luto após a partida do Vanderci.
“Alegre”, “amoroso”, são alguns dos muitos adjetivos que ela usa para descrever o irmão, mas que não transpareciam a batalha que ele travava consigo mesmo. O rapaz tirou a própria vida no dia 1º de janeiro de 2021.
“Foi a pior notícia que eu recebi na minha vida”.
Letícia de Almeida, auxiliar de serviços gerais.
Letícia lembra que anos antes o irmão já tinha dados sinais de que não estava bem psicologicamente. Mas com o passar do tempo o astral de Vanderci melhorou.
“Ele transparecia que estava muito bem, você conversava com ele e achava que estava tudo bem. Tanto que no dia 31 ele bebeu, dançou, estava se divertindo com um monte de gente e meia-noite ele foi embora”.
Letícia de Almeida, auxiliar de serviços gerais.
A partida inesperada do irmão foi um baque muito forte para Letícia. Foi só depois que ela conheceu o GAV (Grupo Amor Vida), instituição que presta apoio emocional gratuito, que ela conseguiu amenizar o fardo do luto.
Hoje em dia ela integra o grupo de pessoas enlutadas que recebem acompanhamento através da iniciativa.
“O tempo ajuda a amenizar essa dor e também essa troca de experiências, esse fortalecimento que hoje eu encontro no grupo. Lá a gente conhece várias pessoas que passaram por essa mesma dor, várias histórias e buscamos, um no outro, o acolhimento necessário. Cada encontro tem algo diferente que a gente aprende”.
Letícia de Almeida, auxiliar de serviços gerais.
O médico psiquiátrica Marcos Estevão, que é referência da área em Mato Grosso do Sul lembra que o suicídio, de um modo geral, é o resultado de um quadro grave de depressão, mas também pode estar associado a demais fatores psicológicos, como transtornos de personalidade ou até esquizofrenia.
É crucial que a família e amigos estejam atentos aos eventuais sinais que uma pessoa à beira do suicídio, possa transparecer para evitar que o pior aconteça.
“As pessoas mais próximas e em especial a família devem ficar atentas. A pessoa quando fica muito retraída, falando em morte, não vê mais prazer na vida está dando sinais de que não quer mais viver. Por isso ela precisa de ajuda”.
Marcos Estevão, psiquiatra.