Search
Picture of Informativo

Informativo

“Pelo amor de Deus, para, a gente tem uma filha”, implorou Natali, morta com 15 facadas

Picture of Informativo

Informativo

Delegadas Elaine Benicasa e Analu Ferraz, prestaram esclarecimentos em coletiva sobre o 5º feminicídio na Capital e 4ª mulher morta a facadas neste ano - Marcelo Victor/ Correio do Estado
Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram

Delegadas frisam que quem presenciou discussão do casal em festa poderia evitar mutilação brutal, do 4º feminicídio com arma na Capital

Brutalmente assassinada pelo companheiro, Cléber Corrêa Gomez, Natali Gabrieli da Silva Souza – morta com 15 facadas, na madrugada do dia 1º – poderia ter sido salva pelas testemunhas, amigos e familiares, que estavam na festa e viram toda a discussão do casal, horas antes de o rapaz de 30 anos mutilar a jovem de 19, na Rua Leopoldina de Queiroz Maia, bairro Jardim Lageado. 

Na manhã desta segunda-feira (03), as delegadas, Elaine Cristina Ishiki Benicasa [titular da 1ª Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher] e Analu Lacerda Ferraz, prestaram esclarecimentos em coletiva sobre esse que é o quinto feminicídio registrado na Capital em 2023, e a quarta mulher morta a facadas neste ano.  

Registrado por volta de 05h da madrugada de sábado (1º), o autor do crime tentou se evadir do local, porém foi preso pelo Grupo de Operações Especiais (GOI) e encaminhado para interrogatório na delegacia, onde optou por exercer o direito constitucional de permanecer em silêncio. O casal tinha uma filha de um ano e quatro meses. 

Algumas testemunhas que estavam na festa, que aconteceu no local crime, já foram ouvidas, enquanto familiares da vítima ainda deverão depôr, por serem poupados durante o fim de semana devido à organização do funeral de Natali. 

Conforme as delegadas, todos eles tinham ingerido bebida alcoólica e, como apontam testemunhas, as discussões começaram ainda na frente dos convidados, motivada por ciúmes do autor que chegou a quebrar o celular da vítima.

Com boletim de ocorrência por vias de fato, contra sua ex-companheira, em seu histórico, informações preliminares apontam que Cléber e Natali mantinham um relacionamento difícil, com discussões e brigas, porém sem qualquer denúncia por parte da vítima morta brutalmente. 

Analu Ferraz faz questão de ressaltar que Cléber demonstrou muita raiva nos golpes, devido ao estado de mutilação que ficou o corpo da jovem, que levou mais de 14 facadas. A faca ainda passa por perícia, e as delegadas aguardam a emissão do laudo. 

Crime poderia ser evitado

Elaine Benicasa destaca que uma das primeiras ações, diante de feminicídios, é justamente consultar algum possível registro de boletim de ocorrência, que não foi encontrado nesse caso. 

As delegadas detalham que esses crimes só acontecem por arma branca porque “na maioria das vezes” o autor não está de posse de arma de fogo. 

“A faca propicia a aproximação. Então, obviamente, os crimes cometidos dentro do ambiente doméstico proporciona ao autor essa aproximação à vítima. Momentos geralmente de raiva, discussão, no interior da residência é o primeiro instrumento que encontram”, expõe Benicasa. 

Ainda, a delegada comenta que uma testemunha diz que ouviu a vítima pedindo “pelo amor de Deus” para que parasse e, as conclusões da polícia é que nesse momento ele já teria desferido várias facadas contra ela, 

“Porque o próprio local e fotos do corpo percebemos que foram mais de 15 facadas, mutilando, na verdade, a vítima, o que retrata o crime de ódio que caracterizam os feminicídios, onde o autor possui ódio em razão da condição de ser mulher”, pontua. 

Analu também esclarece que, iniciada a discussão, Cléber quebrou uma garrafa de cerveja na cabeça de Natali ainda dentro da casa, momento em que ele correu para a rua pedindo socorro, antes de ser brutalmente esfaqueada. 

“Testemunhas dizem que ela gritava ‘pelo amor de Deus, para. A gente tem uma filha’… e ele estava com muito ódio”, diz.

Ainda, Analu faz questão de rechaçar um comportamento tido como “cultural na nossa sociedade”, onde as pessoas costumam dizer que em briga de marido e mulher não se mete a colher, e tendem a ficar inertes, sem agir para evitar qualquer situação. 

“Então as pessoas tendem a não agir. Acredito que, se as pessoas que estavam no local tivessem intervindo nesse tipo de situação, não teria acontecido da forma que aconteceu. Porque também, muita gente não acredita que o autor vai ter uma maldade tão grande de fazer uma barbaridade dessa”, comenta a delegada. 

Por fim, elas frisam que, independentemente, não há o que justifica o crime que resulta na morte de alguém, nem mesmo a costumeira desculpa de culpar a vítima, jogando nas costas da mulher os ciúmes e descontrole que levam ao feminicídio. 

Além desse, outro caso que aconteceu na semana passada entra no mesmo prazo, de 10 dias para as medidas, e até sexta-feira serão encaminhados ao poder judiciário para que a denúncia seja oferecida, aponta a Deam. 

“É muito fácil diante de uma situação dessa e você tentar colocar a culpa na vítima, que é ele que é desequilibrada e violenta, que é ela quem briga e começou a discussão, mas só ela que foi morta, com mais de 14 facadas, e não o autor”, conclui. 

Conteúdo retirado do Correio do Estado.