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Dupla que matou rapaz com mangueira de ar comprimido pega 12 anos de cadeia

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Thiago Giavanni Sena e William Larrea foram considerados pelo juri assassinos do colega de trabalho - Marcelo Victor
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Réus tentaram convencer jurado que a ideia de introduzir o equipamento em parte íntima do rapaz seria uma ‘brincadeira’

Foram condenados a 12 anos de prisão, Thiago Giovanni Demarco Sena, 26 e William Enrique Larrea, 36, por enquanto em regime de liberdade, pela morte do adolescente Wesner Moreira da Silva, 17, ocorrida seis anos atrás, num lava-jato em Campo Grande.

A dupla introduziu uma mangueira de ar comprimido em parte íntima do rapaz, que morreu disas depois.

Advogados que defenderam os réus conseguiram que a dupla ficasse livre até que os recursos sejam esgotados em instâncias superiores.

No julgamento que começou pela manhã a dupla tentou convencer o jurado ao sustentar que nâo pretendia matar Wesner e, sim, que o episódio  teria sido consequência de uma “brincadeira”.

O crime ocorreu num lava-jato, na Vila Morumbi, em 3 de fevereiro de 2017. O estabelecimento era de Thiago. William e Wesner era empregados da empresa.

Histórico

Em depoimento à polícia, os agressores alegaram que tudo se tratava de uma “brincadeira” e foram liberados logo em seguida.

Em 2018, o juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida decidiu que os acusados não iriam a responder por homicídio doloso e, desta forma, não seriam mandados a júri.

Segundo ele, o crime doloso não teria ocorrido, devido a ter ficado comprovado, em depoimentos de familiares, que acusados e a vítima eram amigos e o caso teria decorrido de uma “brincadeira”, devendo os dois responderem por outro crime, que não doloso contra a vida.

O Ministério Público Estadual (MPMS) recorreu, pedindo a reforma da sentença de pronúncia para que os réus respondessem por homicídio doloso, sendo submetidos ao Tribunal do Júri.

Em junho de 2019, desembargadores da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul deram provimento ao recurso.

No decorrer do processo, houve controvérsias em relação ao posicionamento da mangueira. Informações iniciais da Polícia apontavam que a mangueira não havia sido introduzida no ânus do rapaz, e os acusados e algumas testemunhas também afirmam que foi colocada por cima da roupa. No entanto, outras testemunhas, como um dos médicos que atenderam Wesner, afirmam ter ouvido o adolescente dizer que a mangueira foi introduzida nele.

Era Wesner quem mantinha a família na época, com o que ganhava lavando carro, pois a mãe não trabalhava e o pai se tratava de um câncer.

Depoimentos

Em depoimento durante o júri popular, Thiago Giovanni Demarco Sena e Willian Enrique Larrea negaram que havia intenção de matar o jovem e alegaram que a tragédia resultou de uma brincadeira.

Primeiro a depor entre os acusados, Thiago Giovanni Demarco Sena disse não saber do potencial destrutivo da mangueira de ar comprimido, que teria sido introduzida na região do ânus da vítima.

Segundo ele, todos eram amigos e nunca tiveram desavença. Ele afirma ainda que não era a primeira vez que brincavam com a mangueira, direcionando o jato de ar para o rosto ou outras partes do corpo.

No dia do crime, ele afirma que Wesner e Willian estavam brincando com o compressor e que a vítima teria iniciado.

Thiago, que estava fazendo a lavagem embaixo de um carro, também entrou na suposta brincadeira.

“Eu com a mangueira na mão, em tom de brincadeira falei ‘de novo você fazendo isso Wesner’. Peguei e direcionei a mangueira na bunda dele por cima do short, com ar do compressor aberto, que eu já vinha usando, encostei, pressionei por nem três segundos”, disse o réu.

“Na hora ele reclamou e pediu para parar, falou que tava doendo, na hora eu desliguei a mangueira”, afirmou ainda.

Ainda segundo o acusado, Wesner vomitou várias vezes e reclamava de dor. Ele levantou a blusa e a barriga estava inchada. Wesner teria reclamado novamente que estava com muita dor e foi levado ao posto de saúde pelos dois acusados.

“Peguei ele no colo, entrei com ele no posto de saúde e pedi pelo amor de Deus para ajudar ele, que ele estava mal, coloquei ele em cima da maca e pedi para o doutor pelo amor de Deus salvar o guri”, contou, chorando.

Questionado se tinha consciência que o compressor de ar pudesse causar danos graves e levar a morte, Thiago disse que não sabia do risco.

“Eu nunca imaginei que pudesse acontecer o que aconteceu com ele, se eu soubesse jamais teria brincado com ele com o compressor”, afirmou.

Já com relação a alegação de que Willian teria segurado Wesner para que a mangueira de ar fosse introduzida, Thiago também negou.

“Ele não segurou, ele veio com ele abraçado, caminhando, e eu fui de encontro. Ninguém tava segurando, apertando, forçando ninguém”, alegou.

Thiago disse que pediu perdão para a mãe de Wesner no dia do crime, mas ela teria dito que quem perdoa é Deus e não queria contato. Durante o júri, ele pediu novamente perdão para a mãe da vítima e para a família.

Na sequência, o outro acusado, Thiago Giovanni Demarco Sena depôs e, chorando, também afirmou que o caso se tratou de uma brincadeira que deu errado.

Ele confirmou a versão de Willian, de que todos eram amigos e estavam brincando quando a mangueira foi encostada em Wesner. 

“Foi muito rápido, a mangueira de ar estava aberta, não é de ficar apertando para liberar o ar. Pegou e bateu nele e Wesner falou que a barriga tava doendo”, contou.

Ele disse ainda que ficaram presentes durante o atendimento da vítima.

“A gente sempre se deu bem, a gente sempre brincou. A gente nunca teve maldade, sempre jogava bola, nunca passou na minha cabeça machucar ninguém, nunca tive maldade com ninguém”, afirmou.

Ele disse ainda que as brincadeiras com o compressor de ar eram comuns, mas não com direcionamento para as partes íntimas e nunca na maldade.

Diferentemente de Thiago, Willian afirmou que sabia que havia perigo com o compressor de ar de causar danos quando direcionado nos olhos, ouvido e boca, mas que não sabia que havia risco de machucar ou matar o rapaz.

No hospital, Wesner teria dito a uma assistente social que foi segurado por Willian enquanto Thiago aplicava o ar comprimido.

Ele negou a afirmação e disse que não estava segurando a vítima e que tudo foi uma brincadeira.

“Foi questão de segundos. Era uma brincadeira, a gente sempre brincou, era sempre rindo”, disse.

Impunidade

Em entrevista ao Correio do Estado no início da semana, antes do júri, a mãe de Wesner, Marisilva Moreira, havia dito que esperava que a justiça fosse feita, com pena máxima para os acusados. Segundo ela, ainda no hospital, Wesner pediu para que fosse feita a Justiça e ela prometeu que assim seria.

“Ele me disse: ‘mãe eu quero que eles paguem, quero que a senhora vá na delegacia e dê parte para eles pagarem’ e eu respondi que no momento a prioridade era ele, mas assim que saísse, eu ia virar uma leoa para que pagassem o que fizeram com ele”, relatou.

Na visão da mãe, eles sabiam o que estavam fazendo e o risco do uso da mangueira de ar comprimido, já que trabalhavam com o equipamento diariamente.

“Brincadeira não mata, aquilo não foi brincadeira. Meu filho era magrinho, se era brincadeira, por que não brincaram entre eles [acusados]? Meu filho não estava brincando, ele estava trabalhando para ajudar em casa”, afirma.

Marisilva ressalta que Wesner tinha sonho de seguir carreira militar, mas morreu antes de completar os 18 anos exigidos para o alistamento.

“Tiraram um menino tão bom, que sonhava em ter carreira militar, tiraram o sonho de uma mãe de ver os netos, tiraram a convivência com um menino que era muito bom. Eles mataram meu filho e mataram também uma mãe por dentro”.

Ela destaca o fato de Wesner ter acordado no hospital e ficado 12 dias vivo, antes de partir.

“Ele ficou vivo para ter a oportunidade de contar o que aconteceu, porque eles [acusados] ficavam mentindo. Também foi uma forma de se despedir, eu disse para ele que tinha muita gente que amava ele, ele agradeceu e disse que ia voltar para casa”, relembra a mãe.

Marisilva ressalta ainda que, desde o dia do crime, passou a viver um dia de cada vez e que, mesmo fazendo mais de seis anos, “parece que foi ontem”.

“Meu coração ficou no hospital, é muita dor e sempre falei que ia viver um dia de cada vez, mas amanhã Deus vai devolver meu coração, não vai devolver meu filho, mas vai ter a pena máxima e nunca mais eles [acusados] vão fazer uma mãe sofrer”.

“Para mim foi ontem, são seis anos, um mês e 24 dias, e agora chegou. Imagina como eu estou, esperando faz horas esse momento, é muita emoção, é tudo junto. Espero que o júri dê a pena máxima para os dois, é isso que eu espero. Finalmente vão poder pagar pelo fizeram com o Wesner”, concluiu Marisilva.

Conteúdo retirado do Correio do Estado.