Familiares e amigos de Danilo Cezar de Jesus Santos – vítima de homicídio aos 29 anos no último domingo, 5 de março -, divulgaram nota à imprensa nesta quinta-feira (9), com pedido de respeito à memória do estudante de mestrado em Antropologia Social pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), durante o andamento das investigações policiais.
A rede de apoio à família, formada voluntariamente por amigos, parentes, colegas e professores de Danilo, reforça que as declarações feitas pelo morador em situação de rua Railson de Melo Ponte, de 27 anos, possuem diversas contradições entre si e que, portanto, não devem ser utilizadas de embasamento para definir a opinião pública acerca do caso.
Conhecido como “Maranhão”, Railson confessou ter matado a vítima e foi indiciado por homicídio por motivo torpe, por possuir características de homofobia. Também foi mencionado o uso de asfixia e recurso que impossibilitou a defesa do jovem, fatores que podem aumentar a pena.
Railson passará por audiência de custódia na sexta-feira (10). As linhas da investigação, que ajudarão no julgamento do caso, são de homicídio e latrocínio – já que há indícios de que pertences tenham sido roubados. A primeira tipificação rende pena de reclusão entre 6 a 20 anos.
Além disso, o crime também pode ter caráter de homofobia. No Brasil, a Lei 7.716, de 1989, que também trata de punições ao racismo, estipula pena de até três anos, imprescritível e inafiançável, para este crime. Outras penas também podem ser aplicadas, como injúria.
A nota enviada à imprensa também critica a utilização de “jornalismo declaratório” – quando se utiliza falas sem devida contextualização -, para exibir o andamento da investigação criminal. Além disso, ressalta o fato de não haver a possibilidade da defesa da vítima diante de tais alegações, já que Danilo foi assassinado.
A rede de apoio ressalta a trajetória do estudante, que vem de origem pobre e tinha como objetivo melhorar a vida da mãe, uma trabalha doméstica, por meio do trabalho com pesquisa e ensino. O acadêmico de mestrado pretendia continuar a carreira acadêmica em doutorado.
“A vítima também era uma pessoa extremamente solidária e acolhedora, que fazia da ajuda ao próximo sua missão de vida. Matérias e comentários que questionem a recepção dada por Danilo a uma pessoa em situação de rua são insensíveis em relação ao modo como ele via o mundo, uma vez que suas convicções jamais permitiriam negar auxílio a quem o abordasse alegando precisar de ajuda”.
Leia a nota na íntegra:
A rede de apoio à família e amigos de Danilo Cezar de Jesus Santos, vítima de homicídio no domingo (5 de março), vem a público fazer um pedido aos profissionais de imprensa e à sociedade civil.
Diante dos inúmeros comentários maldosos a respeito de Danilo, acreditamos que não seja producente ou respeitoso, para com a memória da vítima, divulgar com destaque as falas do autor do crime em tom de “jornalismo declaratório”, já que a própria investigação aponta contradições em seu depoimento e, sobretudo, porque Danilo não está presente materialmente para dar sua versão.
É importante ressaltar que Danilo era um jovem dedicado e de trajetória exemplar, que veio da periferia e tinha o sonho de melhorar a vida de sua mãe, uma trabalhadora doméstica que se dedicou ao máximo à educação do filho. Aluno aplicado, Danilo conseguiu cursar mestrado com bolsa e pretendia seguir a carreira acadêmica com doutorado.
Além disso, a vítima também era uma pessoa extremamente solidária e acolhedora, que fazia da ajuda ao próximo sua missão de vida. Matérias e comentários que questionem a recepção dada por Danilo a uma pessoa em situação de rua são insensíveis em relação ao modo como ele via o mundo, uma vez que suas convicções jamais permitiriam negar auxílio a quem o abordasse alegando precisar de ajuda.
Danilo tinha uma potência intelectual extraordinária. No mestrado em Antropologia Social, investigava o cotidiano de estudantes brasileiros/as de medicina na cidade de Pedro Juan Caballero (PY), na fronteira Paraguai-Brasil, além de ter sido pesquisador no grupo que formulou o dossiê para o registro de patrimônio imaterial nacional do Banho de São João em Corumbá e Ladário.
Como relatou seu orientador, Dr. Álvaro Banducci Jr., “sempre foi uma pessoa sensível e prestativa, além de humilde por comportamento e origem. Perde a Antropologia do MS, perdem os estudos fronteiriços, chora o São João”.
Danilo sempre foi responsável com suas obrigações, dentro de casa, na universidade e nas tarefas que desempenhava. A professora Dra. Mara Aline Ribeiro reforça a competência e dedicação de Danilo. “Um aluno excelente, um bolsista do CNPq. Um cara comprometido, o histórico escolar dele comprova isso”.
Danilo representa uma parte significativa e importante na vida daqueles que, com ele, compartilharam as experiências da vida vivida. Era sinônimo de gentileza, companheirismo e lealdade, com os amigos, com a família e com as suas causas. Pedimos respeito a sua memória, responsabilidade e compromisso com os desdobramentos da opinião pública.
No mais, é importante lembrar que Danilo prezava a não violência, era veementemente contra o assédio. Magro, de estrutura frágil, tinha consciência da sua vulnerabilidade. Ele costumava se manifestar ativamente contra qualquer tipo de discriminação, crime de ódio e intolerância. Conhecido na comunidade pela sua gentileza com os menos favorecidos, era amado e principalmente respeitado por todos que o conheciam.
São inúmeros os relatos de pessoas que tiveram a vida impactada positivamente pelas atitudes dele. Era carinhoso com os animais e sempre que possível encontrava forma de resgatá-los. Era cuidadoso e respeitoso com a mãe, tendo as iniciais da mesma tatuado no pulso. Tinha o sonho de transformar a vida dela através da educação, caminho que escolheu por aptidão. Era questionador, astuto e levava a ciência a sério.
*A rede de apoio aos familiares de Danilo Cezar é formada voluntariamente por amigos, parentes, colegas e professores da vítima.
Conteúdo retirado do Campo Grande News.