Em média, um modelo novo do veículo pode custar R$ 370 mil; o serviço de blindagem pode variar entre R$ 30 mil e R$ 80 mil, preço que muda ainda de acordo com o nível de proteção do carro
Responsável pela morte do empresário Antônio Caetano de Carvalho, o subtenente reformado da Polícia Militar José Roberto de Souza se apresentou na 1ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande para prestar depoimento sobre o assassinato que ocorreu no Procon, na segunda-feira (13).
De acordo com a versão relatada pelo policial aposentado, o conflito que resultou na morte de Antônio Caetano de Carvalho teve como pivô o conserto do motor de uma caminhonete Toyota SW4 blindada, que seria do militar. Sem o componente extra de segurança, o veículo custa cerca de R$ 370 mil.
Conforme o advogado de defesa do policial aposentado, José Roberto da Rosa, o militar passou por departamentos como a Tropa Ostensiva de Repressão Armada (Tora), que veio a se tornar o atual Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), e pelo Departamento de Operações de Fronteira (DOF), de combate ao narcotráfico e diversos crimes na região de fronteira do Estado.
Além disso, o ex-agente afirmou em depoimento que sempre andava armado, “até para ir à farmácia”, conforme comentou o advogado.
Em relação à blindagem do veículo, segundo apurou o Correio do Estado, o serviço para esse tipo de medida de segurança custa entre R$ 30 mil e R$ 80 mil, dependendo do nível de proteção e do modelo do carro.
Segundo Rosa, o motivo pelo qual José Roberto de Souza sempre estava com a posse da arma era que ele havia prestado serviço em unidades de grande exposição.
HISTÓRICO
Na primeira reunião de conciliação, na sexta-feira (10), a vítima teria levado um comprovante de R$ 22 mil, a respeito de todo o trabalho feito, e cobrado R$ 630 de uma troca de óleo do veículo.
A discussão se iniciou porque José Roberto de Souza pediu outro comprovante, alegando que o valor do motor era superior, e os outros reparos custaram quase R$ 3 mil a mais.
O conciliador do Procon-MS teria pedido uma nova audiência, para o pagamento de R$ 630 da troca do óleo e para que o empresário pudesse trazer a outra nota, que seria na segunda-feira, dia do crime.
Na segunda audiência, a vítima teria trazido a mesma nota fiscal de R$ 22 mil, o que teria irritado ainda mais José Roberto de Souza. Durante a discussão, o empresário teria levantado da cadeira e o ex-policial fez o mesmo, efetuando os disparos logo em seguida e saindo da sala.
De acordo com advogado de defesa, o policial aposentado saiu do Procon, dirigiu-se até a sua residência, deixou o veículo no local e seguiu até a Lagoa Itatiaia, onde ficou refletindo sobre o ocorrido.
Após ver uma viatura da polícia, o ex-agente deixou a arma para trás e foi para a casa de um familiar, onde procurou a esposa, contou sobre o ocorrido, esperou a “poeira abaixar” e buscou um advogado antes de se entregar na delegacia.
Segundo o delegado responsável pelo caso, Antônio Souza Ribas Júnior, a arma do crime ainda não foi localizada e possivelmente está com o registro vencido desde fevereiro de 2015. O caso foi enquadrado como homicídio por motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Por ora, o policial aposentado José Roberto de Souza está preso preventivamente no Presídio Militar e todos os servidores do Procon que presenciaram as discussões já foram ouvidos sobre o caso. Também será investigado se o autor dos disparos possui algum tipo de transtorno psicológico.
INÍCIO DO CONFLITO
Segundo o depoimento de José Roberto de Souza, a oficina de Antônio Caetano de Carvalho teria sido recomendada por amigos. A caminhonete estava com problemas, e o empresário havia indicado um motor novo, que custaria por volta de R$ 30 mil.
De acordo com o advogado de defesa do policial militar, o autor dos disparos pagou R$ 20 mil via Pix e parcelou o restante do conserto do cartão de crédito. Rosa afirma não ter a confirmação dos valores, pois ainda não teve acesso aos recibos bancários do cliente.
Após a troca do motor, a SW4 teria continuado com problemas. O policial aposentado voltou a procurar a oficina de Caetano, que realizou os reparos, mas cobrou pelo trabalho.
Então, José Roberto decidiu procurar a Superintendência para Orientação e Defesa do Consumidor (Procon-MS), pois a caminhonete estaria no período de garantia e ele queria reaver os valores dos consertos após a troca do motor. O militar pretendia, ainda, entrar com uma ação civil contra o empresário.
VÍTIMA
Morto a tiros durante audiência na Superintendência para Orientação e Defesa do Consumidor (Procon-MS) na manhã de segunda-feira, o empresário Antônio Caetano de Carvalho, 67 anos, atuava no segmento automotivo há 40 anos, integrava a diretoria atual da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) e era conhecido pela sua paixão por motociclismo.
Atualmente, ele integrava a diretoria da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande como membro do Conselho Deliberativo.
No segmento automotivo desde a década de 1980, Antônio Caetano deu início à sua vida profissional com apenas 14 anos, quando trabalhou na empresa Autopeças do Gê, segundo revela Milton Insuela Pereira Júnior, amigo do empresário há mais de 40 anos.
“Era apaixonado por veículos, de motocicletas a caminhões, e trabalhou como vendedor e gerente de lojas do setor”, disse.
Antônio Caetano deixa a esposa e quatro filhos.
Saiba: De acordo com testemunhas, no dia do crime, o militar realizou três disparos, dois acertaram a vítima: um na cabeça e outro no tórax.
Antônio Caetano de Carvalho morreu no local, e o policial militar reformado fugiu a pé. José Roberto de Souza era cliente da empresa Aliança Só Hilux e estava devendo R$ 630 ao empresário, por uma prestação de serviço. O caso é investigado pela 1ª Delegacia de Polícia Civil da Capital.
Conteúdo retirado do Correio do Estado.