Levantamento feito pelo governo do Estado aponta que a faixa etária com mais ocorrências de mortalidade nesses casos fica entre 20 e 39 anos
Um dos estados com maior taxa de mortalidade por suicídio no País, Mato Grosso do Sul manteve neste ano uma média de 25 mortes por mês, situação que persistes desde o ano passado e é a maior dos últimos quatro anos.
Segundo dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e da Secretaria de Estado de Saúde (SES), até agosto deste ano, 202 pessoas tiraram a própria vida no Estado, quantitativo igual à média do que foi registrado no mesmo período de 2021.
O número total de casos do ano passado foi de 303 mortes, com período de pico na pandemia da Covid-19. O dado foi o maior registrado nos últimos quatro anos, sendo 15% maior que os 263 óbitos anteriores ao período pandêmico, em 2019.
De acordo com os dados do Ministério da Saúde, divulgados em boletim no ano de 2021, Mato Grosso do Sul é o quarto estado com a maior taxa de mortalidade por suicídio no Brasil, com a média sendo de 10,3 por 100 mil habitantes. O número é bem elevado se comparado com a taxa nacional, que foi de 5,7 em 2019.
A faixa etária com a maior mortalidade por suicídios são pessoas de 20 a 39 anos. A população indígena também apresenta prevalência elevada nos jovens com idade entre 15 a 29 anos.
Apesar da queda de 6% no número de mortes de 2019 para 2020, segundo a SES, isso é por conta da subnotificação de casos durante a pandemia.
A preocupação da Secretaria de Saúde é agora no período pós-pandemia, considerando o aumento da demanda de atendimentos relativos à saúde mental
Os dados divulgados pelo governo do Estado de 2020 a 2021 também revelam que as tentativas de suicídio não consumadas são maiores entre a população jovem, de 15 a 29 anos, sendo as mulheres as mais atingidas.
Em 2020, foram 503 casos do sexo masculino e 1.186 tentativas de suicídio do sexo feminino. No ano seguinte, uma queda de 29%, com 337 registros de homens e 849 de mulheres.
MOTIVOS
Sobre os dados, a psicóloga Giseli Oliveira esclarece que esse patamar elevado de mortalidade pode estar ligado a problemas pessoais causados pela pandemia.
“Perda de emprego, situação socieconômica, problemas nas relações familiares, entre outros motivos, se agravaram muito com o isolamento social e foram potencializados durante a pandemia”, detalha.
Identificar no ambiente familiar comportamentos e sinais que podem indicar um potencial suicídio pode evitar a tentativa.
“Os sinais são perceptíveis ao longo dos anos. Isolamento, tristeza, perda de vontade de fazer até aquilo que antes gostavam, mensagens depressivas em frases, textos, fotos. Silêncio por saberem que não serão compreendidos, principalmente nas questões de orientação sexual”, lista Gisele.
Projeto consegue salvar homem que tentaria suicídio
Após pesquisa constatar que muitos casos de suicídios ocorrem em viadutos de Campo Grande, a ONG Grupo Amor Vida, que presta serviço voluntário de prevenção ao suicídio, criou em setembro o projeto Ponte da Vida.
A ideia tem como objetivo colocar frases em viadutos da cidade com o número de atendimento da ONG e com os dizeres “A dor compartilhada dói menos”, com intuito de propor a reflexão e evitar tentativas de suicídio.
A frase está exposta desde
o dia 17 de setembro no viaduto Senador Italívio Coelho, no cruzamento da Avenida Ceará com a Avenida Afonso Pena, com o número do Grupo Amor Vida (0800-750-5554) para pedidos de ajuda à ONG.
Em menos de um mês que a ação está em funcionamento, a ONG já salvou vidas que seriam perdidas. É o que conta Cinthia Morales, coordenadora de Divulgações do Grupo Amor Vida. “Um senhor nos ligou do viaduto, ele foi até lá com o intuito de tirar a própria vida. Ele viu nosso número e ligou para a ONG”.
O senhor não teve a identidade revelada porque a ligação é feita de forma anônima para o grupo. Uma voluntária atendente da ONG ficou na chamada com ele até a chegada do Corpo de Bombeiros no local.
“Depois de um longo tempo de conversa, ela informou e pediu autorização para o senhor para chamar os bombeiros. Quando os militares chegaram, eles conseguiram salvar o homem”, completa Cinthia.
GRUPO AMOR VIDA
O Grupo Amor Vida é uma associação civil sem fins lucrativos, sem vinculação político-partidária e religiosa, fundada no ano de 2001.
A instituição presta um serviço gratuito de apoio emocional e de prevenção ao suicídio por meio de ligações telefônicas oferecidas para todas as pessoas que queiram e precisem conversar.
As ligações podem ser realizadas de segunda a domingo, das 7h às 23h, por meio do número 0800-750-5554. A linha não possui identificador de chamadas e o grupo tem sede fixa em Campo Grande.
Os atendentes voluntários passam por treinamentos e cursos de formação antes de atender as ligações.
“Estamos com média de 400 a 500 atendimentos por mês neste ano, e ano passado foram 300 a 400. Estamos recebendo ligações, inclusive, de outros estados do País”, diz Cinthia.
A coordenadora de Divulgações do Amor Vida ressalta também a importância do trabalho da ONG na prevenção ao suicídio. “Entendemos que o assunto muitas vezes é tabu, porém acreditamos que, se feito da maneira correta, esse debate pode ser muito benéfico, para trazer acolhimento para as pessoas com ideações suicidas”, finaliza.
Conteúdo retirado do Correio do Estado.