Em ano de eleição é sempre aquela mesma coisa: alguns se queixam da propaganda eleitoral, outros gostam porque podem conhecer melhor os candidatos, mas poucos se atentam a um trabalho que é realizado – majoritariamente – nos bastidores: os jingles. O jornal O Estado conversou com artistas e profissionais da área e te conta um pouco mais sobre isso.
Rezende Junior, nome já conhecido do meio jornalístico, publicitário e musical de Campo Grande, que trabalha com jingles eleitorais há 32 anos, conta o que é necessário para se criar um jingle de sucesso.
“A gente sempre faz um briefing com o cliente, porque a gente não pode vender um produto sem conhecê-lo – eu sou jornalista e publicitário –, e aprendi desde cedo que a gente não pode vender aquilo que a gente não compra. Então, eu procuro sempre conhecer a quem nós vamos promover.”
Rezende conta que já se deparou com plágios de seu trabalho, sendo um dos casos mais marcantes o que aconteceu com o jingle que produziu para Roseana Sarney, em 2018, quando identificou 132 plágios no total e, atualmente, tem 56 processos em andamento na Justiça.
“Começaram a chegar denúncias para a gente, porque quem ficou incomodado com aquele jingle cantado para outro candidato e candidata, também, começou a ligar falando: ‘Olha, meu adversário está usando uma música sua’. Eu falei ‘ué, mas eu não vendi para essa pessoa’”, conta o publicitário.
Virada de jogo
E os jingles eleitorais também podem mudar os rumos de uma eleição. “Teve uma candidata que perdeu uma eleição, porque eu ‘meti a cara’ no vídeo e denunciei à cidade que aquela pessoa – que estava liderando a pesquisa, inclusive –, foi numa cidade média no Estado de Goiás, eu falei ‘olha, a cidade devia pensar duas vezes antes de votar numa pessoa que já começa roubando a propriedade intelectual de outros. Eu sou Rezende Junior, autor da música de Roseana Sarney, que foi copiada sem nenhum pedido de direito autoral, sem nenhum pagamento autoral’, e isso explodiu na cidade, ela despencou nas pesquisas e perdeu a eleição municipal”, relembra o compositor.
Experiência
Odon Nacasato, produtor musical, trabalha com jingles eleitorais há 34 anos e conta que o trabalho é feito por etapas. “No início você produz o jingle institucional do candidato ou da candidata, depois parte para a produção de imagens e na sequência, a produção do horário político gratuito em si. Cada produtora geralmente tem sua equipe, mas essa época sempre agrega muito.”
Sem preconceito
A cantora Gessica Fernanda, que trabalha com Odon há vários anos, comenta que os jingles proporcionam uma renda extra que, às vezes, não é possível tirar em um show inteiro. “Muitas vezes, com três jingles você consegue receber o mesmo valor de um show, sem contar a experiência que é do trabalho em estúdio. Alguns tem um preconceito desnecessário por ideologia política, não canto pra fulano, nem pra sicrano, só digo uma coisa: tem oportunidade pra todos, basta se colocar à disposição”, pontua a artista.
Campanhas jovens
Para o percussionista Aly Ladislau, as eleições acabam mobilizando muitos setores e, entre eles, o artístico, e acaba sendo uma fonte de renda extra, bem interessante, mas não é só isso. “Hoje, com o envolvimento mais ativo do público na carreira de artistas, entendemos que aquele pensamento antigo de que é melhor se manter neutro em relação a pautas políticas caiu por terra. O fã cobra do artista um posicionamento condizente, então contribuir com campanhas alinhadas ao seu nicho se mostra uma estratégia positiva de conexão com o público”, assevera o músico.
Exercendo a criatividade
Para a dupla Victor Gregório e Marco Aurélio, os jingles proporcionam também a possibilidade de usar a capacidade criativa. “Para nós os jingles são muito importantes, além de mexer com a nossa criatividade nos traz uma renda extra, é trabalhoso por que criamos tudo do zero, letra, melodia produzimos com nossos amigos do estúdio Cigerza e colocamos nossas vozes, é um período intenso mas vale a pena.”
“Falcão”, produtor musical e dono de estúdio que trabalha com jingles há mais de 20 anos, explica que o processo criativo foi algo que se desenvolveu ao longo dos anos, com a experiência. “Eu vou fazendo o contato, a letra, o arranjo, a produção, coloco os meninos para cantar, eu tenho uma equipe de cantores que trabalham comigo, e o cliente escolhe o tipo de voz que quer no jingle.”
Guga Borba
O cantor Guga Borba afirma que essa é uma temporada de muito trabalho para compositores, intérpretes e músicos, bem como para os técnicos e estúdios de gravação. “Os Jingles são peças fundamentais nas campanhas eleitorais, uma assinatura musical de cada candidato. Nesta eleição fui convidado para gravar e participar da campanha do parceiro João Cesar Mattogrosso, gostei muito do resultado e também de reencontrar amigos da música sertaneja de MS”, finaliza.
Conteúdo retirado do O Estado.