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Risco de desabastecimento do diesel é real e pode gerar caos

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Petrobras cita demanda externa, início da colheita da safra de grãos e temporada de furacões como dificuldades para manter estoques no segundo semestre

Depois de aumentos sucessivos nas bombas e com a última alta de preço a completar 19 dias, a pressão sobre o diesel complica ainda mais o cenário econômico do País. De acordo com declaração do presidente Jair Bolsonaro (PL), o estoque atual da Petrobras durará, no máximo, 40 dias.  

Na última semana, conselheiros da Petrobras se reuniram para debater um eventual desabastecimento. Do encontro, um documento foi elaborado e enviado para o Ministério de Minas e Energia (MME), alertando para o perigo de ocorrer um racionamento no segundo semestre.  

O Correio do Estado conversou com especialistas e economistas sobre o tema e ainda há uma certa cautela na hora de projetar os próximos meses. Apesar disso, eles são unânimes em dizer que, caso o cenário se confirme, será um caos na logística do País.  

O mestre em Economia Eugênio Pavão comenta que tudo isso é motivado pelo represamento do reajuste do diesel.  

“O preço defasado está levando a menor produção para o mercado, colocando em risco a distribuição de mercadorias no País e em MS”, disse.  

Para Pavão, as repercussões podem ser catastróficas, caso não haja alternativas para estimular a oferta do insumo.  

“Como aumento do diesel não está sendo cogitado pelo governo, o risco de um desabastecimento é uma possibilidade palpável. Ou a importação do diesel, com redução de taxas de importação. Entretanto, os preços instáveis do mercado internacional podem causar uma reação dos caminhoneiros, o que levaria a uma maior inflação e instabilidade política e social”, conjecturou. Diretor-executivo do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo e Lubrificantes (Sinpetro-MS), Edson Lazarotto comenta que é um perigo iminente, mas, mesmo assim, é necessário esperar o desenrolar da oferta mundial do produto.  

“Desde o começo da guerra se fala sobre essa possibilidade. A logística de importação está complicada, e a Rússia entra no mercado quando ele está aquecido e sai quando bem entende”.

O dirigente ainda avalia que é preciso esperar um pouco, pois a informação oficial é de que há estoque de 40 dias do combustível para todo o Brasil.  

“O preço está bem aquém para importar, o governo repassa o preço, e temos apenas 70% de capacidade de refino para o mercado interno. Caso a coisa falte, pode fazer escalonamento, mas não está bem esclarecido”, explicou o diretor do Sinpetro.

Questionado sobre a possibilidade de ter estoque do produto, o representante do setor foi categórico.  

“Não tem como fazer estoques, principalmente postos de rodovias. Um posto ótimo com bom volume de vendas aguenta, no máximo, três dias”, finalizou Lazarotto.  

SAZONALIDADE

A economista Adriana Mascarenhas ressaltou que daqui a 30 dias começa a colheita da segunda safra de milho. Ela comentou que seria um desastre para nossa economia.  

“Imagina faltar óleo diesel, o transporte no País todo estaria comprometido, seria um desastre. Não acredito que o governo deixe chegar nesse ponto. Para o agro, então, seria muito pior. Daqui 30 dias temos a colheita prevista e temos uma demanda e uma necessidade muito grandes. Esse é um cenário difícil de imaginar o caos que seria”.  

Segundo o economista Marcio Coutinho, existem alguns motivos para o momento que estamos passando.

“Basicamente por algumas razões: primeiro, por aumento sazonal da demanda mundial no segundo semestre; e segundo, a demanda maior que a oferta, países como a Rússia não estão exportando para o mercado mundial. Consequentemente, a Petrobras informa que 30% da demanda interna de 2021 foi atendida por meio de importações”.  

No documento enviado pela Petrobras ao MME, além dos fatores sazonais e das restrições de importações russas, de junho a novembro começa a temporada de furações na América Central e nos Estados Unidos, deixando indisponíveis refinarias localizadas nessas áreas.  

De acordo com o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), a situação em que o mercado de combustíveis no País se encontra é muito preocupante.

“O modal de transporte brasileiro hoje ainda é muito rodoviário. Ter racionamento é não ter diesel, você paralisa a produção, o transporte”.

LUCRO

Um dos principais pontos de ataque da classe política e dos cidadãos é a Política de Paridade Internacional (PPI) da Petrobras, adotada em 2016 pelo governo Temer. De lá para cá, a estatal passou a praticar preço de venda no mercado interno brasileiro a patamares praticados no mercado internacional.  

Com isso, a petroleira atingiu lucro recorde de R$ 44 bilhões no primeiro trimestre deste ano, 3.718% maior que o de 2021.  

“Acho que temos que achar um mecanismo, diminuir um pouco do lucro: R$ 44 bilhões em um trimestre é muita coisa. Dá para dividir um pouco dele para o povo brasileiro, diminuindo a pressão do mercado internacional e da precificação”, sugeriu Azambuja. 

Desse montante, R$ 17,76 bilhões vão para o governo, por meio de pagamento de dividendos. Fora essa fonte, apenas no primeiro trimestre do ano, R$ 69,9 bilhões, o equivalente a 57% da geração de caixa operacional, foram pagos em impostos à União, aos estados e aos municípios.  

Todo esse recurso vai para o Tesouro Nacional e não tem destinação obrigatória.

“Acho que agora é racionalidade e equilíbrio para achar uma medida que atenda a dona de casa, o cidadão, o trabalhador e a trabalhadora. Combustível está muito caro no Brasil, precisamos achar um mecanismo”.

“Não adianta empurrar a culpa para os governos estaduais pelo ICMS. Você não tem que buscar culpado, mas soluções para baixar o preço do combustível no País, que, infelizmente, está impactando toda uma cadeia produtiva”, finalizou o governador. 

17,76 bilhões de reais 

Dos R$ 44 bilhões de lucro da Petrobras no primeiro trimestre, R$ 17,76 bilhões vão para o governo federal por meio de pagamento de dividendos. Conteúdo retirado do Correio do Estado.